Ele ali está, quando menos se espera, até ao domingo. Sabe que, sendo parque diante dum hospital, os utentes, apressados ou distraídos ou pensando que, ao fim-de-semana, o fiscal não está para vir bem lá da baixa até ali, zás! Ele aí está. E multa, multa – que, de facto, os seis escassos lugares ali disponíveis são bem preciosa árvore das patacas para os cofres da empresa camarária que gere os parquímetros e que tudo vem fazendo para alargar o seu campo de acção. E, se calhar, o próprio fiscal, por serem horas extraordinárias acaba por arrecadar mais algum!
Uma mina, essa, para a tal entidade pública omnipresente, sob as mais diversas fardas, nas autarquias de todo o País. Que o automóvel, senhores, embora há muito tenha deixado de ser objecto de luxo, como tal ainda se continua a considerar. Interessa. Paga IUC, paga portagens, paga estacionamento!…
Muito eu gostava de saber duas coisas de cada uma das autarquias:
– Primeira: de quanto é o rendimento anual dos parquímetros?
– Segunda: quanto é que desse rendimento se aplica no arranjo e manutenção dos arruamentos. Ou será que o grosso da despesa é constituído pelo vencimento dos administradores?
No fundo, agora que se começa a pensar também em campanhas autárquicas, muito eu gostaria de ver os candidatos comprometerem-se a prestar periodicamente contas aos munícipes. A convocarem bimensal, trimestralmente ou mesmo semestralmente só que fosse, a comunicação social local e nacional para uma conversa, com os dados na mesa: senhores, o que estamos a fazer é isto; temos dinheiro para a iniciativa X; ainda não temos para a Y; com os parquímetros arrecadámos tantos milhares e, desses, um terço foi para ordenados do pessoal, outro terço para obras nas rodovias, o 3º terço para assistência social. É uma hipótese. claro. E o IUC foi para onde?
Reclama-se transparência; mas, na verdade, nestes governos locais que até mais nos tocam do que o central, lá de Lisboa, de gente que frequentemente do país real até pouco conhece, destes governos locais é que nós bem gostaríamos de saber por que águas é que os seus euros navegam. Oh! se gostaríamos!…
(também publicado no jornal Renascimento (Mangualde), nº 875, 20-02-2025, p. 10)

FANTÁSTICO, José D’Encarnação.
Pontos nos is, ordem na Casa, transparência de que tanto falam.
Ninguém pode sair para a praia, para um restaurante, para uma actividade cultural ou para uma emergência médica, sem ter de prestar vassalagem aos malditos parquímetros que, se apenas servirem para pagarem vencimentos das empresas que exploram as zonas, são como as burocracias que se alimentam tão fartamente, que produzem mais burocracias famintas.
Deve ser, é, inconstitucional uma Câmara qualquer ceder o espaço público a empresas privadas, depois de o roubar ao cidadão que paga os seus impostos.
Há tempos os munícipes de uma Câmara do país do distrito de Lisboa, UNIRAM-SE para impedrem a entrada desses exploradores na sua cidade. Nenhuma empresa o poderia fazer. UNIÃO, é o que está a faltar à maioria dos portugueses explorados.
Acho este tema magnífico. Que comecem a explicar de quem são as ruas das cidades deste país.
A propósito disto, vale a pena reler o artigo publicado aqui há 2 anos: https://duaslinhas.pt/2023/02/emel-nao-entra-em-benfica/
Emendo: “…para impedirem…” na 5ª. linha a contar do fim, ou 4ª. do penúltimo parágrafo.
Boa noite Carlos Narciso, bem haja pela ligação a este texto de 2023.
Era precisamente a esta matéria que eu me referia, um exemplo saudável de como os munícipes deste país não devem andar sempre curvados às arbitrariedades dos poderes local e central.
Uma boa noite para todos. Um abraço.