Há mais de um ano que se negoceia o fim das hostilidades na Faixa de Gaza. A diplomacia tem sido ineficaz, perante a vontade israelita de prosseguir a guerra e a ocupação de territórios.
Há um acordo de princípio a que as partes já chegaram, que é uma trégua nos combates em troca da libertação dos reféns detidos pelo Hamas e dos detidos palestinianos detidos por Israel. Mas o Hamas sempre insistiu que um acordo deve levar ao fim permanente da guerra e à retirada israelita de Gaza, enquanto Israel disse que não terminará a guerra até que o Hamas seja desmantelado. Como isso significa a continuação dos bombardeamentos indiscriminados e a matança de civis, não tem sido possível parar com a guerra.
Agora, mais uma vez, Hamas e Israel negoceiam através da mediação do Qatar e do Egipto. Pelo meio, os americanos, agora com dois representantes, um do Presidente cessante e outro do Presidente eleito. Os americanos não arbitram nada, apenas fazem pressão. Sabemos que são aliados incondicionais de Israel e temos visto como apoiam sem remorso a matança da população palestiniana. Aliás, Trump prometeu o inferno na terra se o Hamas não libertar os reféns israelitas até ao próximo dia 20.
Informações provenientes do Qatar falam num “rascunho” de acordo que obteve a concordância dos negociadores. Não é a primeira vez. Já aconteceu antes, sempre com o rompimento do Governo israelita. A ala da direita fascista-sionista ameaça deixar cair Netanyahu se ele assinar qualquer acordo com o Hamas e não prosseguir com a guerra e a anexação definitiva da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. O primeiro-ministro israelita arrisca ir parar à prisão, assim que a guerra terminar, devido a casos de corrupção que estão em tribunal congelados pela situação de excepção que o país vive. E por isso continuar com a guerra é para Netanyahu uma questão de inimputabilidade e sobrevivência política.

A agência de notícias Reuters escrevia ontem que “as próximas 24 horas serão cruciais para chegar ao acordo”, citando um funcionário diplomático envolvido nas negociações Hamas-Israel. Mas as horas passam e não há notícias sobre avanços para um acordo definitivo.
A rádio israelita Kan, citando uma fonte não identificada do Governo israelita, confirmou na segunda-feira que as delegações israelitas e do Hamas no Qatar tinham na sua posse um rascunho de acordo.
No Cairo, uma outra fonte disse à Reuters que o rascunho não inclui o acordo final, mas “visa resolver questões pendentes que haviam dificultado as negociações anteriores”.
Em Israel, a televisão noticiou que o ministério da Saúde instruiu os hospitais para se prepararem para a entrada de reféns fracos e doentes. Os sinais são estes. Tudo pode acontecer ou não. As manifestações pela paz e pelo fim do genocídio não cessam, um pouco por todo o mundo.

As ameaças de Trump fazem temer o pior para a população civil palestiniana. O Hamas não deverá estar muito impressionado, os seus combatentes estão tarimbados por combates sempre desiguais e assumem o martírio supremo em combate, a exemplo do que tem acontecido com tantos, nomeadamente o líder mais carismático, Yahya Sinwar que morreu em combate.
As negociações não têm impedido a continuação dos bombardeamentos israelitas e as manobras militares no terreno. Morrem dezenas de civis palestinianos por dia, muitos deles crianças, mulheres, pessoas doentes que não se conseguem proteger, Israel continua a matar jornalistas, socorristas e médicos, continua a destruir casas, escolas e hospitais. O exército israelita confirmou que cinco soldados foram mortos em combates no norte de Gaza, elevando para nove o número de soldados mortos desde sábado, sinal de que o Hamas continua a ter capacidade de combate.
