De braços caídos

Basto significativos são sempre os gestos dos nossos braços. Há votações de braço no ar; há os braços cruzados numa atitude de expectativa ou de alguma serenidade; há o abraço ‘forte’ ou ‘terno’, como vamos dizendo nas nossas mensagens de email; e há os braços caídos, de desalento.

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Não gosto dos braços caídos, lânguidos, sem acção – qualquer que seja o motivo que assim determinou.

O Professor Jorge Paiva, intrépido defensor, há décadas, da biodiversidade, acaba de nos comunicar que, ultrapassada a fasquia dos 90, deixou cair os braços. Já lhe ripostei, discordando: não pode fazer isso, senão nós próprios, um tudo-nada mais novos, vamos desanimar também!…

Jorge Paiva: “os actuais políticos e governantes (…) nada fazem para travar ou minimizar o desastre ambiental corrente”

A sua reacção é, porém, forte que nem muralha romana: «Após mais de meio século de atividade cívica pelo Ambiente e pela Natureza, tenho plena consciência de ter sido um luta improfícua. Proferi cerca de 2500 palestras de educação ambiental, na sua maioria em escolas. Os alunos ficavam sensibilizados e despertos para o desastre ambiental do Planeta Terra, a Gaiola que habitamos».

Chegados a adultos, estimulados pelo consumismo, «esqueceram tudo o que ouviram. Reflexo disso são os actuais políticos e governantes (…) que nada fazem para travar ou minimizar o desastre ambiental corrente».

albufeira de Campilhas, Santiago do Cacém, Portugal
seca no rio Amazonas, Brasil

«Também eu fui um ‘lírico’», comenta, ao referir-se a Camões. E não deixa de traçar de seguida o quadro assustador: «A Gaiola em que vivemos está imunda, plena de poluição gasosa, líquida e sólida, muito quente, com frequentes incêndios, o nível médio oceânico a subir, as calotes dos gelos polares e das altas montanas a desaparecerem, tempestades com inundações devastadoras, grandes lagos a secarem e regiões do globo a desertificarem».

inundações em Albufeira, Portugal
inundações em Málaga, Espanha
nevão na Flórida, EUA
nevão na Arábia Saudita

E, por isso, conclui, «o meu desalento é enorme».

(adaptação da crónica publicada em Renascimento (Mangualde), nº 874, 20-01-2025, pag. 10)

1 COMENTÁRIO

  1. De: Cristina Neves
    26 de janeiro de 2025 13:34
    E a nova lei dos solos é mais uma cartada de desalento. Esperemos que, pelo menos, façam as tais alterações. É uma tristeza, o dinheiro andar sempre à frente da Natureza.

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