O cartoon “Tintin em Gaza” foi desenhado por Carlos Sêco em 2009. Não foi premonição sobre o que se passa hoje na Palestina. Foi um retrato do que se passava naquele ano, depois do exército israelita ter lançado mais um ataque devastador. Como justificação, foi dito que seria um “ataque preventivo”. E para prevenir mataram 1400 pessoas, a maioria mulheres e crianças. O costume.
É bem possível que se o criador de Tintim ainda fosse vivo, haveria hoje um livro de BD com as aventuras de Tintim em Gaza.
Nos anos 40, Hergé publicou “Tintim, Land of Black Gold” (Tintim no País do Ouro Negro), onde o aventureiro repórter se embrenhou numa trama disfarçado de palestiniano, detido pelos soldados coloniais ingleses, raptado pela organização secreta judaica Irgun que executava ataques terroristas contra árabes e britânicos. Uma grande aproximação à realidade da época e aos métodos que levaram à implantação do Estado de Israel em 1948.
Esta história teve várias versões, a última das quais publicada nos anos 70. Curiosamente, a Palestina transformou-se numa terra imaginária denominada “Emirado de Khemed” e a organização terrorista judaica passou a ser a polícia militar do tal Emirado fantasioso. Ou seja, os judeus deixaram de ser os maus da fita. Neste caso, da tira. De qualquer forma, nenhuma das versões foi traduzida para o hebraico…
Pena não haver modo de ressuscitar Hergé. Porque a haver, de facto, uma história sobre “Tintim em Gaza”, teria de ser um Tintim pro-palestiniano. Isto porque Tintim é justo, incorruptível, um eterno defensor dos oprimidos. Nas histórias que Hergé publicou, Tintim denuncia a situação dos nativos americanos que são expulsos de suas terras e defende os camponeses chineses contra os imperialistas japoneses e ocidentais, denuncia as corporações multinacionais que provocariam a guerra para controlar campos de petróleo, expõe traficantes de armas e traficantes internacionais de drogas, falsificadores, pistoleiros e comerciantes de escravos modernos. Os fascistas de Israel não iriam ficar impunes.
O CARTOONISTA
Carlos Sêco tem 55 anos, nasceu em Fontainebleau, França, para onde os pais tinham emigrado. Cresceu a ler a BD de Hergé. Em Portugal, criou a Gazeta Júnior, um jornal escolar onde, em 2003, surgiu a personagem de BD Jonas o Reguila que parece ter algumas semelhanças com Tintim, nomeadamente no espírito de aventura.