Passados 14 meses de destruição total das infraestruturas civis na Faixa de Gaza, onde quase todas as escolas dos vários escalões de ensino já foram destruídas, assim como hospitais e áreas residenciais, olhamos para a 1ª página do site da UNESCO e aparece-nos uma realidade bastante diferente da que reportam os canais palestinianos nas redes sociais.
Há um novo relatório da UNESCO sobre a impunidade com que se matam jornalistas, mas não menciona nenhum caso dos mais de 200 que já foram mortos na Faixa de Gaza.
É uma espécie de relatório técnico, onde se pode ler que “85% de todos os assassinatos registados pela Organização desde 2006 são considerados não resolvidos. Embora a UNESCO registe uma tendência de melhoria – a taxa era de 89% há seis anos e de 95% há doze anos – os Estados devem aumentar significativamente os seus esforços para dissuadir novos crimes contra jornalistas.” Tudo muito asséptico, serôdio. Lemos isto e apetece-nos espatifar o laptop que temos pela frente.
Logo a seguir aparece um vídeo com declarações de uma jornalista palestiniana em Gaza. O discurso foi editado e não conhecemos a versão original. Mas o que vemos esta jornalista dizer é que os jornalistas em Gaza têm muitas carências, passam fome e precisam de cobertores. Nem uma palavra para os mais de 200 mortos pelos snipers e bombardeamentos israelitas.
No mesmo relatório lemos que no biénio 2022-2023, “um total de 162 jornalistas foram mortos. Quase metade das mortes ocorreu em países que vivem conflitos armados, em comparação com 38% nos dois anos anteriores (2020-2021)”, mas não explica que a grande maioria das mortes ocorridas em 2023 foram em Gaza e da autoria dos militares israelitas, apesar do conflito ter sido agudizado só depois de 7 de outubro desse ano.
O site da UNESCO tem várias secções, uma delas chama-se Observatory of Killed Journalists (Observatório de Jornalistas Mortos). Uma espécie de “cemitério” onde seria suposto estarem alinhados os corpos casos de jornalistas assassinados no exercício das suas funções profissionais. A lista pode ser consultada por ordem cronológica (do mais recente para trás) ou por país. Consultando as mortes de jornalistas palestinianos (colocando o filtro “State of Palestine”), temos apenas 64 nomes de jornalistas mortos desde 1996.
Algures, um aviso: a lista de jornalistas mortos não inclui casos não comprovados com o exercício da profissão. Ou seja, a UNESCO não dá crédito às acusações de haver muitas mortes provocadas por bombardeamentos dirigidos às residências dos jornalistas, de haver um plano para eliminar os que registam e relatam o genocídio dos palestinianos que está a ser executado pelos militares de Israel.