É um romance que se agarra e só se larga na última página. Carmen Laforet leva-nos numa viagem pelo interior das mais profundas angústias humanas, numa família, numa casa, numa cidade – Barcelona – onde a protagonista viveu um ano apenas. Um ano em que tudo foi sempre nada, numa sufocante história de vida pessoal e familiar salpicada de momentos e paisagens e objetos e sentimentos disfóricos.
Tudo neste livro nos remete para almas adormecidas, fechadas e solitárias… As outras personagens apresentam-se afundadas em preto, alongadas e sombrias. Há nestas 275 páginas um profundo desamparo, um absoluto abandono… E Barcelona, que deveria ser o porto de abrigo da jovem recém-chegada à casa da avó materna, acaba por revelar-se uma cidade de sombras e de gritos onde o ar está carregado de tristeza.
NADA é a prova de que as famílias podem ser tão disfuncionais como o desabar de uma forte tempestade. Só raramente a protagonista se sentiu solta e livre na cidade deserta de gente sua, sem medos nem fantasmas, uma cidade de uma solidão impressionante, como se todos os habitantes tivessem morrido.
Adorei a personagem central do romance, com quem adormeci e acordei nesta última semana. Como ela, “gosto de pessoas que vêem a vida com outros olhos, que consideram as coisas de forma diferente da maioria… pessoas com aquele átomo de loucura que faz com que a existência não seja monótona, ainda que sejam pessoas infelizes e estejam sempre nas nuvens…”
Eis um livro onde a vida aparece nua e sem pudores e nos grita intimidades tristes.