Antevia-se, pelos convivas que iam chegando, um final de tarde chique. As senhoras tinham ido ao cabeleireiro e escolhido traje a condizer; os cavalheiros, de fato e gravata e lencinho branco a espreitar, indiscreto, no bolsinho do casaco. Ia apresentar-se Palácio no Estoril – O Hotel Inspirador, de Paula Bobone.
Paula vestira-se a rigor, coloridamente, e mostrava ao peito um bem vistoso alfinete. Não será o termo adequado, bem no sei, mas perdoe-se-me a ignorância em módulo de enfeites femininos.
A sala compôs-se, encheu-se. Uma senhora, de agressivo telemóvel em punho, insistia junto deste e daquele casal, que se levantasse, para ela, sorridente, os fotografar a preceito. Decerto para um magazine. E também aquelas duas senhoras que tinham vindo juntas. Fotografias não faltaram. Faltaram foi muitos lugares.
Vinte e dois minutos após a hora aprazada, compôs-se a mesa. Não houve mestre-de-cerimónias, para anunciar os seus componentes; mas vim a saber depois que, à direita da autora, se assentara o sr. vereador José Duarte d’Almeida, em representação do município; e, à esquerda, Manuel Guedes de Sousa, Diretor Geral do Hotel Palácio.
Abrindo a sessão, o sr. vereador teve palavras de apreço pela autora, a quem deu de imediato a palavra.
O microfone era direcional, Paula Bobone teve-o sempre na mão e manteve animada, informal e gesticulada conversa com a assistência, a qual amiúde sublinhou com sorrisos o que ia conseguindo ouvir. Na verdade, palavras e frases soltas, consoante ao microfone era dada a oportunidade de as apanhar: não havia autoestrada; fascinada; a Cascais uma vez e nunca mais; demorava-se muitas horas de carruagem; onde é que está? Olá! Eu gosto de História; ela é uma tradutora excelente; «traduttore tradittore» não se lhe aplica; o rei D. Carlos; pesca; a caça; desportos; realmente foi um rei extraordinário, por acaso foi morto; altos e baixos como é a vida; eu gosto muito de falar; ela nasceu aqui e viveu aquela época [referia-se a uma das senhoras que apontou]; anfitrião; passava a vida a dar festas; uma coisa horrível, os judeus a fugir da guerra; não é ofensivo, pois não? «Peço desculpa por ter massacrado com muito paleio, mas eu gosto de falar» – assim concluiu.
Formou-se a fila para os autógrafos. As meninas do hotel passavam com a bandeja a oferecer uma taça de vinho branco ou um copo de sumo de laranja. Trocaram-se saudações. Apreciaram-se toiletes e penteados. E os sapatos de moda. Sexta-feira, 20 de Setembro de 2024. Agradável convívio de mui sereno fim-de-tarde.
Houve, então, a oportunidade de saber que fora Isabel Soares da Costa a tradutora, pois as 56 páginas estão em português e em inglês. As fotografias saíram do espólio do Arquivo Histórico Municipal de Cascais. As sugestivas ilustrações desenhada estiveram a cargo do marido da autora, Vasco d’Orey Bobone, professor universitário, aguarelista de renome. Coube a responsabilidade da edição ao Departamento de Arquivos, Bibliotecas e Património Histórico camarário, sob coordenação de João Miguel Henriques. 1000 exemplares. ISBN: 978-972-637-336-0. Depósito legal do ano corrente.
Li o texto da capa: «As qualidades que ao longo da vida me caraterizaram foram o sentido estético e o gosto pela cultura. Assumo esta realidade pelo orgulho que senti ao compor este livro. O assunto é maravilhoso e transmiti-lo aos leitores é uma boa acção. O nosso país está repleto de histórias especiais e únicas. Agradeço aos que lerem e registarem nas suas lembranças este tema especial: O Hotel Palácio no Estoril, em Portugal».
Sente-se, de facto, que a autora, saltitando de monumento em monumento, de assunto para assunto, daqueles já muito conhecidos de todos, se terá divertido bastante. Nada nos diz de novo; mas sentimos que se divertiu – e lhe fez bem.
Saí devagarinho, pois ressumam história estas paredes do Hotel Palácio – e, essas, há que senti-las bem. Imaginei ali, o 007, naquele sofá; o Júlio Verne a sair daqui para ir ultimar, na orla marítima, o seu O Raio Verde; aqueles espiões todos da II Grande Guerra, entre um charuto cubano, uma taça de espumante e matreiro olhar de soslaio…
A relva do Parque do Estoril estava a ser regada, o sol vermelho já descansava lá para as bandas do Guincho e a Via Verde do parque do Casino há largas semanas que não funciona.
Nao Abordou nada de novo !!!