“Na Solidão dos Campos de Algodão” é uma peça escrita por Bernard-Marie Koltés, um texto denso onde se digladiam personagens de contornos difusos, habitantes de um bas-fond social.
Na verdade, o espectador terá a liberdade de interpretar o que ouve e o que vê, e porventura o que se vê terá tanta importância como o que é dito.
É também uma peça fisicamente exigente, onde os atores deixam suor e sangue, literalmente.
Bernard-Marie Koltés morreu cedo, vítima de HIV. Deixou-nos apenas seis textos teatrais, todos magníficos e encenados por esse mundo fora, a saber: o solilóquio La nuit avant les forêts (1977), Combat de nègre et de chiens (1979), Quai Ouest (1983), Dans la solitude des champs de coton (1985), Le retour au désert (1988) e Roberto Zucco (1989) e depois morreu.
No teatro Ibérico, a peça “Na Solidão dos Campos de Algodão” foi encenada por Zia Soares. A encenadora e os quatro atores escolhidos formam um naipe bem representativo da lusofonia. Zia é filha de timorense e angolana, nasceu no Bié. Pedro Hossi, Gio Lourenço e Daniel Martinho são de Luanda, Hugo Narciso é de Lisboa, filho de um português e de uma angolana, todos juntos enchem um palco dominado por talentos da lusofonia.
Se Pedro Hossi é um nome já bastante conhecido na cena teatral portuguesa, popularidade exponenciada pelas telenovelas em que tem participado, esta peça evidencia o talento do mais jovem dos quatro em palco, Hugo Narciso que, aos 21 anos, revela enorme capacidade de interpretação e uma presença em palco distinta.
Ir ao Teatro Ibérico ver esta peça é uma experiência que deveria interessar a todos os que gostam de teatro. Mas também servirá para ficarem a conhecer a antiga igreja do Convento de São Francisco de Xabregas.