Após ler a biografia de Maria Teresa Horta, revisitei A Paixão Segundo Constança H, 13 anos depois da primeira leitura. Eu já não sou a mesma e por isso, a leitura e o livro também mudaram. Encontrei agora um grito que se estende por 300 páginas… O grito de uma mulher desguarnecida, vulnerável, o grito de dor de uma traição, o grito dilacerante do medo, o grito da loucura…
Repito. Não é um livro fácil. Há momentos em que as nossas entranhas se revolvem e também a nós nos apetece vomitar…
O livro é um soluço do início ao fim onde a paixão se transforma em ódio como uma febre no peito, a morder no sítio onde devia estar o coração.
“Talvez morra do meu próprio excesso”, afirma a protagonista, ciente dos seus medos, dos seus fantasmas, das suas obsessões.
“Talvez um dia me internem”, repete, amiúde.
Não é um livro fácil. Antes, um livro assolado pelo temor avassalador a que a paixão poderá obrigar. Paixão doentia, sôfrega, aguda a de Constança por Henrique e de Henrique por Constança. Uma paixão feita voragem, feita de fome e desassossego.
Não é um livro fácil. Antes perturbador. Quando a paixão se mistura com a loucura, todos os caminhos vão dar à morte, seja ela de que tipo for: “Durar é melhor que arder”? Para Constança H., marcada pela rejeição, “não é a fidelidade que importa , é o ato de abandono”.
Constança H. ou Maria Teresa Horta? Personagem ou autora? Duas mulheres conscientes da sua desagregação. Duas mulheres com o coração aceso para quem o inferno mesmo é o do amor.
Não é um livro fácil… É um livro que fala do que pode acontecer quando o sofrimento nos desperta e nos retira da letargia e do branqueamento das nossas emoções.