Um bem estranho ceramista…

As placas toponímicas do ACP. Ainda subsistem à entrada de muitas localidades e constituem relevante património a salvaguardar.

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Ao ver o interesse com que eu fotografara a placa toponímica de Castro Verde, o Luís Vitoriano deu-me conhecimento, dias depois, do que o Dr. Abílio Pereira de Carvalho escrevera, a 2 de Julho de 2022, no seu blogue Trilhos Serranos Montemuro:

«O meu amigo Dr. José Guerreiro, de Castro Verde, […] publicou o topónimo daquela vila alentejana […] feito em azulejo com o monograma do ceramista (três letras entrelaçadas, no topo, a saber “APC”), exatamente o mesmo artista  a quem se devem os azulejos e o topónimo que existe pespegado na fachada lateral daquela que foi a primeira casa levantada logo à entrada da vila de Castro Daire, para quem viaja na Estrada Nacional Nº 2, no sentido Sul/Norte.

Duas obras de arte em cerâmica […] com o monograma do autor».

Mais um argumento, em seu entender, para se promover a geminação dos dois Castros.

A história

Na 1ª metade do século XX, o desenvolvimento do turismo – na sua fundamental vertente de «tour», ‘giro’, ‘volta’, ‘ir por aí’… – reclamou a sinalização de itinerários, a identificação de lugares… Coube ao Automóvel Clube de Portugal essa tarefa, cujo resultado, neste momento da investigação (linguística e de história do urbanismo, por exemplo), se reveste de particular significado.

Compreende-se: um clube de gente que preferentemente se deslocava de automóvel pelo País precisava, de facto, de ter guias, de saber onde estava. Ampla campanha se fez, por conseguinte, para que ao automobilista nada faltasse nesse domínio.

Muitos milhares de azulejos se mandaram, pois, fazer na Fábrica da Viúva Lamego, cada um com uma letra ou uma sinalefa; sobre o painel, bem simétrico, deveria figurar, como que num nicho, o anagrama do ACP.

Desta forma, hoje é-nos possível saber, se todos tivermos cuidado na sua preservação, quais as terras que mais interessava visitar e que maior relevância referencial detinham. Aliás, tem sido mesmo preocupação do pessoal do Arquivo do ACP ir guardando as fotografias dessas placas, com a respectiva localização, que sócios e simpatizantes para lá não deixam de enviar.

De resto, não será despropositado referir quanto a citada preservação dessas placas no seu sítio original detém, na actualidade, um interesse histórico primordial: é que eram colocadas na primeira casa da povoação (dessa altura); geralmente, uma casa de dois pisos, com uma janelinha / postigo donde era possível ‘espiar’ quem entrava e quem saía, qual guarda de contemporâneo condomínio fechado…

Referenciando-as, teremos o perímetro urbano da localidade, saberemos o que cresceu desde então, o como e o porquê…

Incitamos, por isso, as autarquias – e os cidadãos em geral – a bem localizarem essas placas e a exigirem aos proprietários dos edifícios que – mesmo procedendo a obras de beneficiação do imóvel em que a placa está encastrada – a não retirem ou a voltem a colocar no mesmo sítio, depois do restauro feito. É um índice a não perder!

Para além da placa de Castro Verde, escolhemos mais algumas como ilustrações, mas gostamos em especial da da placa toponímica que na Malveira da Serra dá a direcção para Lisboa e para o Barão, uma surpresa, porque esse era o nome por que, na 1ª metade do século XX era conhecida a povoação do Linhó, por ser o respectivo Barão o dono da maior parte das propriedades daí.

Enfim, singelas placas azulejadas, sim; mas páginas eloquentes de um livro de História que não se podem rasgar!

2 COMENTÁRIOS

  1. De: maria helena coelho
    11 de agosto de 2024 12:54
    Os azulejos toponímicos do ACP são uma maravilha.
    Vou andar de nariz no ar para ver se os encontro por onde passo!…

  2. Muito grata por este texto, José d’Encarnação, deu-me a noção da minha ignorância nesta matéria.
    Por ele começo agora a dar a devida atenção às placas toponímicas cuidadosamente pensadas, primorosamente elaboradas e felizmente ainda existentes em algumas localidades do país.
    Nunca tinha reparado no detalhe da sigla do ACP em letras abraçadas, ao cimo (rigorosamente ao meio) do topónimo.
    Também nunca tinha pensado bastante na função social desse labor e no detalhe da manifestação artística: letras encorpadas a duas cores (azul cobalto e amarelo) como que a três dimensões, sobre fundo branco debruado a azul, qualidade da Fábrica Viúva Lamego.
    E depois o interesse histórico que referes e a necessidade da sua preservação. Acho fundamental que se comece a ensinar cedo, nas escolas, a sua importância no princípio do século XX, destacando as funções que detiveram a partir da informação que detalhas neste texto.
    O que aprendi com a sua leitura!

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