Tempos de incerteza

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Concluiu-se nesta quarta feira a contagem de todos votos das eleições de Março, com a escolha dos últimos quatro deputados pelos círculos da emigração. No que concerne às duas maiores formações politicas, nada se alterou na correlação de forças saídas da noite eleitoral de dia 10. Já o Chega engordou mais um pouco em relação à semana anterior, com dois deputados eleitos. Bela safra teve a extrema-direita. Os partidos tradicionais do sistema deveriam começar já a pensar em perceber “como chegámos até aqui”, antes mesmo de governarem e, já agora, fazerem oposição, para não termos mais nenhuma surpresa em breve. 

A Aliança Democrãtica (AD) irá formar e aprovar o seu programa de governo sem sobressaltos, dentro da legitimidade que lhe foi conferida pelo voto popular. Os dois maiores partidos da oposição já se predispuseram a não chumbar a entrada em funções do futuro governo. Mais, ambos os partidos, PS e Chega, já deram a entender que não criaram obstáculos à aprovação de um orçamento retificativo, que tivesse em conta as promessas feitas na campanha eleitoral, por quase todos os partidos, incluindo a AD, nomeadamente no que concerne à reposição de uma série de direitos e regalias pecuniárias que alguns sectores do Estado foram perdendo durante mais de duas décadas. PSP e GNR, Guardas Prisionais, Médicos e Professores, alguns serviços do Ministério da Justiça estão na calha para exigirem a Montenegro que cumpra as promessas de campanha. Outros aguardarão a sua oportunidade, mas estes serão com certeza os mais reivindicativos. Tudo isto com o Chega a pressionar o governo no cumprimento das promessas feitas, com discursos populistas e demagógicos, mais até do que o PS, cujas responsabilidades passadas o deixam algo manietado.

Ironia do destino, vermos o PS propor agora o apoio a medidas deste governo da AD, num possível orçamento retificativo, que se recusou aplicar durante o seu mandato, nomeadamente a reposição da contagem de tempo de serviço dos professores e o aumento do subsidio de risco das forças policiais. Se tudo isto não fosse tão irracional, eu diria que António Costa se perdeu numa certa soberba.

A AD necessita de tempo. Mas o tempo urge como nunca. Os resultados têm de lhe ser favoráveis logo de inicio, caso contrário não terá possibilidades de apresentar dados económicos credíveis no final de cada ano e muito menos evitar a fuga de eleitorado para o Chega, como se viu nestas eleições. O PSD teve 8 anos na oposição e o melhor que conseguiu foi mais 60 000 votos do que um PS desgastado e desprezado por muitas das classes profissionais, que ainda até há mais de uma década foram o seu esteio eleitoral.

O sucesso e o desfecho deste governo ficarão sempre associados ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que, temo, possa sair com índices de desaprovação bem maiores do que os que alcançou Cavaco Silva em 2016. Pior achava eu ser impossível. Mas em politica o que parece é. 

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