Um Jardim Chinês na Quinta dos Inglesinhos

«A Câmara Municipal de Cascais assinou um acordo com a Sociedade de Investimentos China-Macau-Portugal para a construção de um fabuloso Jardim Chinês na Quinta dos Inglesinhos».

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            Prossegue a notícia:

«O investimento (…) será inteiramente suportado pelo grupo chinês, que pensa concluir a obra no espaço de três anos. O Jardim Chinês comportará um pavilhão de exposições, palácio de congressos, uma pousada tipicamente oriental, cascatas, flora chinesa, bastantes lojas. Para completar este maravilhoso panorama, está ainda projectada a edificação, em miniatura, dos principais monumentos chineses».

Informa-se ainda que se prevê investir nesse empreendimento a módica quantia de «cerca de 5 milhões de contos»! Exacto: milhões de… contos! Não de euros, pois que esse acordo foi assinado pela mui digna autarquia cascalense no ano de… 1991! A notícia vem na página 3 do Jornal da Costa do Sol nº 1212, de 25 de Julho desse ano, com o sugestivo título «A China aposta em Cascais».

Ainda o senhor Joe Berardo não pensara em criar o seu Boudha Eden, inaugurado só em 2001, na Quinta dos Loridos, Bombarral, já esse sonho se queria tornar realidade na histórica quinta de Carcavelos, que dá pelo nome «dos Inglesinhos» e que tanta polémica vem suscitando nos últimos tempos, da população em guerra aberta contra a autarquia que está disposta a autorizar, não um jardim chinês – esse projecto deve ter naufragado no estuário do Tejo!… – mas, também grandiosa, uma urbanização! Lá se vai o pinhal, gritam os contestatários, lá se vai um espaço verde, lá se vai a qualidade de vida!

Qualidade de vida seria essa, a do Jardim Chinês, que o diga quem visita o Boudha Eden!

«Inglesinhos» seriam as crianças dos membros da colónia britânica que ali se instalou, no século XIX, para tratar da ligação entre o continente europeu e a América através de um cabo telegráfico submarino. Obra de grande monta e de enorme importância estratégia que viria a ser concretizada em 1858. Coube ao pessoal do navio «Agamémnon» (nome  significativo, porque Agamémnon foi o comandante supremo do exército grego na guerra contra os troianos…) a instalação desse cabo, que inconformada e mui desastrada baleia estragou três semanas depois, obrigando a nova instalação em 1866.

Para a colónia inglesa, atendendo à natural morosidade da empresa, haviam-se criado mui adequadas acomodações, que ainda hoje se mantêm de pé, em acentuadas condições de degradação. Uma vista de olhos pelas páginas 73 e 74 do livro, de Guilherme Cardoso, Roteiro Fotográfico de Carcavelos e Alguns Apontamentos Histórico-Administrativos, onde se colheram duas elucidativas imagens, complementará o que se acaba de referir.

Implantada, como era obrigatório, em posição privilegiada diante da foz do Tejo, terminada a tarefa, retiradas as famílias para outras instalações – algumas decidiram ficar por cá e a colónia inglesa é seguramente uma das mais antigas no concelho de Cascais – todo o espaço ficou disponível para o que desse e viesse. E, como se vê, propostas nunca faltaram. Nem faltam!

Pode até acontecer que haja um milagre e, um dia, como quem não quer a coisa, a equipa de um outro cabo submarino ali venha a instalar-se com armas e bagagens, como sói dizer-se!

Quinta dos inglesinhos e praia de Carcavelos

2 COMENTÁRIOS

  1. Não creio que os moradores da zona estejam dispostos a permitir outras implantações.
    Bom mesmo seria deixarem a linha de costa como está, sem mais pressão urbanística sobre as águas do Atlântico.
    Qualquer empreendimento acabaria por comprometer ainda mais a “pureza” ambiental já tão ameaçada, porque nada está como no tempo da instalação da colónia britânica. As construções foram tomando conta do espaço verde aprazível, como sempre, infelizmente.
    Bem poluídos estão os mares, os caminhos terrestres que ainda restam, com detritos espalhados por todo o lado, mas por enquanto ainda temos o privilégio de admirar uma parte do percurso no seu estado natural, num passeio agradável e gratuito.
    Não compreendo esta vontade do homem destruir, descaracterizar, corromper espaços abertos e o ar que respira. Esperemos que não tenha que comprá-lo, num futuro próximo.

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