Diagnóstico? Cancro. Cancro de mama, cancro no cérebro… cancro. Primeiro pensamento: sentença de morte, sofrimento, porquê eu?
Entre a solidão de carregar um diagnóstico pesado, chega às famílias a notícia. Todos correm. O que poucos sabem é que, de repente, naquele núcleo familiar todos temos cancro. Começam os tratamentos: cirurgia, radioterapia, quimioterapia. Vai-se o cabelo, a zona de tratamento apresenta queimaduras dolorosas, as viagens de ambulância, de ida e volta, cansativas. Indisposição, humor deprimido.
Os meus olhos tristes nada dizem sobre que aprendi a viver, com elas, o seu cancro. Não se luta contra ele, não se ganha ou perde, aprende-se a viver. A minha mãe, diagnosticada há um ano. Uma outra minha amiga, que aprendeu a viver com ele e que, com um humor transcendente, nos dizia “Eu é que tenho cancro e vocês é que são todas maradas da cabeça” e soltava uma gargalhada, sempre pronta para viver.
Hoje ela já não está connosco. Hoje a minha mãe aprendeu a viver com o bicho. Eu aprendi a não guardar nada para fazer amanhã, vestir amanhã, etc. porque tudo o que temos é o hoje.
Viver em modo cancro não é fácil, requer força e coragem, uma equipa médica atenciosa e, cá por casa, falar-se sobre isso com abertura.
Obrigada por este ano. E todos aqueles que estão a aprender a viver com ele, seja na primeira pessoa, seja enquanto familiares, saibam que é OK não estar sempre OK.
Neste dia quero também deixar um repto. Eu, como filha, não posso nunca deixar de trabalhar para acompanhar a minha mãe aos tratamentos. Só há legislação no caso dos descendentes e não ascendentes. Agora pergunto, que civilização é esta? Onde está a justiça social? Pois… foi a pergunta que fiz, enquanto os meu olhos, marejados de lágrimas, soltavam fogo pela tremenda injustiça. E foi assim que, durante algum tempo, ela foi na ambulância sozinha… e eu fiquei de coração pequenino.
A jornada não termina nunca… e é isto.