Numa quarta feira à tarde, a estratégia de tentar fazer o percurso entre Entrecampos e Paço de Arcos, tentando evitar a greve da CP ao recorrer a outros meios de transporte, falhou em grande estilo. O 1725, que deveria ter passado às 17h30, não deu o ar da sua “desgraça”. Um telefonema para a Carris Metropolitana bastou para ser informada de que “isso é da responsabilidade da Viação Alvorada”. Nota: a Carris Metropolitana supostamente gere essas transportadoras. Um telefonema para a Viação Alvorada, já em estado de plena carga de nervos, resulta em que não podem fazer nada porque não dispõem ainda de meios de comunicação para tentar saber, junto do motorista, a razão do atraso, e mais importante, quando vão resolver a situação.
O resultado é o adiamento de uma consulta médica da qual se estava à espera há semanas. Outras pessoas na paragem tiveram de tentar apanhar autocarros alternativos para andarem em círculos numa versão do Inferno de Dante, no meio do trânsito em Lisboa e da desorganização caótica a que a Carris Metropolitana nos quer habituar à força.
Faço um convite a quem é administrador destas empresas: experimentem andar 48 horas de autocarro pelas várias zonas de Oeiras, Lisboa e até Margem Sul. Ouçam as reclamações legítimas dos utentes que vêm a vida a andar para trás, acumulando atrasos, cansaço, revolta, e até mesmo alguns arriscarem-se a perder o emprego por causa deste pesadelo kafkiano. Tenham a coragem de verificar, tanto nos emails que são enviados, como in loco, as mais do que legítimas razões de queixa de quem apenas quer ter as suas rotinas a horas, porque de cansativa e desgastante já basta a vida. Convido-os a não terem hipóteses de apanhar um táxi, porque andam a contar os euros dos respectivos salários, de cada vez (e são muitas!) em que os autocarros falham, ou porque o motorista parece não saber o percurso, ou porque acabaram o horário e o que os vem render nunca mais aparece. Convido-os ainda a ver como alguns motoristas são despistados, mal educados, e passam o tempo a andar de graça nos autocarros uns dos outros em absoluto desprezo pela angústia de quem, mais uma vez, vai chegar atrasado (a) ao trabalho, à escola, à consulta médica ou à casa para tratar das rotinas familiares.
Depois convido esses altos cargos a fazerem por merecer os ordenados que ganham.