ALCABIDECHE – A FREGUESIA FESTEJOU 182 ANOS!

Com o Auditório de S. Vicente completamente lotado, Alcabideche festejou, no domingo, 22 de Janeiro, dia de S. Vicente, os 182 anos da sua elevação a freguesia. Uma terra com história secular e dinamismo ímpar, como nessa sessão solene ficou cabalmente demonstrado.

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Uma sessão variada, que se iniciou com a apresentação de um vídeo a mostrar o que é Alcabideche e o que nele se tem feito em prol da população, nos mais diversos domínios: educação, cultura, acessibilidade, higiene e limpeza, desporto, preservação do ambiente… Cantou Beatriz da Silva, a vencedora da 1ª edição do concurso «Estrelas da Freguesia»; apreciou-se a actuação do Grupo de Dança da Sociedade de Instrução e Recreio de Janes e Malveira (chamado, à boa maneira inglesa – tinha que ser! –«Expression Move»); soubemos que o Clube Desportivo Cascais Crusaders, sediado em Alcabideche, é campeão nacional de futebol americano…

atuação dos Expression Move

Enfim, o rol de galardões que a Junta de Freguesia entregou – recorde-se que a pandemia impedira celebrações nos dois anos anteriores… – constituiu eloquente amostra do muito em que os fregueses alcabidechenses se têm notabilizado. E isso foi devidamente assinalado nos discursos protocolares dos presidentes da Assembleia de Freguesia, da Junta e da Câmara Municipal.

Apresentou-se, na ocasião, um livrinho de cordel, que foi distribuído aos participantes à saída da sessão. «De cordel», à moda dos livrinhos que outrora os vendedores de rua penduravam, Alcabideche, Uma História de Séculos mais não pretendeu ser, nas suas 16 páginas, do que mui ligeiro sobrevoar do muito que a vetusta freguesia tem para contar, como, por exemplo, no minucioso volume, de perto de 500 páginas, Registo Fotográfico de Alcabideche e Alguns Apontamentos Histórico-Administrativos também ele edição da Junta, em 2009,os seus autores, Guilherme Cardoso, Jorge Miranda e Carlos A. Teixeira souberam demonstrar.

Como houve oportunidade de referir, não poderia agora resumir-se em tão poucas páginas a riquíssima história de uma Freguesia que, se tem 182 anos como Freguesia, como povoação tem muitos mais. O certo é que essa idade – acrescentou-se, preza a sua importância e a sua identidade. Sempre se distinguiu da vila de Cascais, sempre se manteve autónoma. Criou cedo a sua corporação de bombeiros. Teve núcleos revolucionários e tem tradição que não enjeita a modernidade. As suas gentes de Biscaia, Figueira do Guincho e Almoinhas Velhas partilham-se entre a agricultura e a pesca (os seus nomes daí derivam), mas Alcabideche não hesitou em ter um autódromo, o primeiro grande shopping do País, o hospital (os hospitais, aliás). Gente esforçada, que dos terrenos pedregosos sabia colher o pão. Por isso, Ibne Mucana, no longínquo séc. XI, farto do luxo ilusório das cortes da Andaluzia, quis regressar à sua terra natal, onde havia vento, sim – que os moinhos bem aproveitaram. Hoje, que tanto se fala em energia eólica, Alcabideche foi pioneiro e um dos seus filhos, José Roquete, inventou moinhos que se divulgaram pelo mundo!

E tem água, que Alcabideche quer dizer isso mesmo, o manancial aqui jorra; Atrozela, o seu nome deriva de ser aí a mãe de água.

Lá virá o tempo em que se recuperará a sua azenha. La virá o tempo em que se recuperarão alguns dos seus bonitos e bem estruturados casais saloios. Lá vira o tempo em que mais se falará dos seus vestígios romanos. Por agora, é também o tempo em que Alcabideche se distingue pela excelência dos seus restaurantes. E S. Vicente, o seu padroeiro (como também o é de Lisboa) e a sua ligação à Senhora do Cabo, à Festa do Divino Espírito Santo são penhor duma terra que brilhantemente se preza das suas tradições e as sabe viver. Este singelo livrinho aí está para algumas recordar!

joão Aníbal Henriques e José d’Encarnação

Al-Qabdaq

Poderá ter sido este o nome árabe de Alcabideche, Al-Qabdaq. Retomámo-lo em 1990 para ser o título do Boletim Cultural da Junta. Publicou-se no ano seguinte contendo o livro de uma poetisa ligada à freguesia; Isolina Alves Santos, e, em 1992, o nº 3 conteve a obra completa de Ibne Mucana, traduzida pela saudosa professora de Árabe da Universidade de Alicante, María Jesús Rubiera Mata.

O boletim não teve, por enquanto, seguimento e o nome foi agora ‘recuperado’ no livro de João Aníbal Henriques, Al-Qabdaq – Memorial Histórico de Alcabideche, apresentado, na noite de sexta-feira, 27, na igreja matriz da freguesia, que esteve repleta de gente. Apresentou o volume Pedro Mota Soares, presidente da Assembleia Municipal e os presidentes da Junta e do Município, José Filipe Ribeiro e Carlos Carreiras (respectivamente) – este último autor do prefácio, enquanto a José Ribeiro coubera a «Abertura» – tiverem palavras de muito apreço pelo empenho posto pelo autor na elaboração deste trabalho, que se apresenta denso de texto e sem ilustrações. O próprio João Aníbal contou do percurso feito para chegar a este objectivo.

Vale a pena dar conta dos títulos dos capítulo desta ‘viagem’ pela historia e pelo território da freguesia, uma viagem sedutora, a que não faltam toques de encantadora poesia, que já desses títulos se desprende:´

– «Um Alcabideche perdido nas brumas do tempo»;

– «Na penha verdejante da tradição»;

– «Al-Qabdaq no dealbar da História»;

– «Na rota saloia que define Portugal»;

– «Origens e tradições dos saloios de Alcabideche»;

– «Arquitectura de cenário ou o cenário de Alcabideche»;

– «Aspectos decorativos nas casas saloias de Alcabideche»;

– «Saloios orgulhosos!».

Três páginas de bibliografia completam o volume, com cuja publicação muito nos congratulamos.

3 COMENTÁRIOS

  1. Um belíssimo texto que descreve exaustivamente as comemorações dos 182 de Alcabideche como freguesia.
    Grata pela informação das publicações e dos festejos apresentados nesse âmbito, como expressão de um orgulho que os naturais sentem pelas proezas de agora e pela terra que tudo faz crer ter sido próspera.
    Sempre me lembro do poema de Ibn Mûqanâ na versão de Adalberto Alves em O Meu Coração é Árabe: “Ó homem de Alcabideche/que não te faltem sementes/que o labor do teu moinho/cuja vela o vento mexe/possa ter o remoinho/que dispensa as correntes…

  2. Li com atenção quanto noticiaram. Será possível obter um exemplar do texto do Dr. João Aníbal Henriques em “Al-Qabdaq – Memorial Histórico de Alcabideche”? Bem como dos livros da poetisa ISOLINA ALVES SANTOS, praticamente desconhecida na sua terra natal – Pedrógão Grande – e sobre a qual gostaríamos produzir um pequeno texto bio-bibliográfico?! Em troca poderei oferecer alguns livros da m/ autoria ou edição. Sou proprietário de um raro Museu da República e Maçonaria, de que só existem mais 2 e toda a Península Ibérica, e a partir do qual vou produzindo alguns livros sobre a História local e as suas mais ilustres personalidades nascidas no Vale do Zêzere / Serra da Lousã. Agradeço-lhe o apoio bibliográfico e documental possível. Para qualquer contacto Telem. 919856297

  3. Olá, amigo Aires! O amigo é como os franco-atiradores: dispara em todas as direcções, não vá o alvo fugir. Este não foge, esteja descansado! O José d’Encarnação que escreveu esta crónica é o mesmo que lhe prefaciou o livro e que escreveu uma crónica aqui mesmo no Duas Linhas sobre a sua mui prezada Pedrógão Grande. Dos livros da Isolina eu trato, descanse; do do João Aníbal, creio que a Junta de Freguesia de Alcabideche terá exemplar para permuta; mas sobre isso lhe vou enviar mensagem por correio eletrónico. Um abraço!

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