Anunciou-se para a noite do passado dia 6, no Salão Preto e Prata do Casino Estoril, “As Canções que Ninguém Quis”, espectáculo desenhado por Bárbara Tinoco, moderado pelo autor Tito Couto e tendo como convidados especiais Agir e Carolina Deslandes.
Sublinhava-se, na nota de apresentação, que o espectáculo reuniria «as histórias e as canções que, por algum motivo, não foram aceites pelas pessoas para quem foram escritas». Esclarecia-se que «algumas chegaram a ser gravadas por outros intérpretes – com sucesso, inclusive – outras pelo próprio autor e outras não chegaram (ainda) a ver a luz do dia».
E acrescentava-se:
«Serão também convidados artistas que vão interpretar a canção que recusaram e dar uma oportunidade aos compositores e ao público de ver como ficaria afinal a canção na sua voz».
A expectativa, por isso, era grande.
Depressa os bilhetes esgotaram e o facto de mui significativa parte da assistência ser constituída por menores (acompanhados de seus familiares) e por jovens poderá derivado de se ter pensado que os três principais intervenientes, além de conversarem – sob a espicaçante tutela da voz quente do autor Tito Couto – iriam interpretar não apenas as canções rejeitadas, mas também, em jeito de ‘sobremesa’, algumas das mais conhecidas do seu repertório, nomeadamente para se obter a anunciada dinâmica, «baseada na constante comunicação e partilha, entre os compositores em palco e também com o público». Quiçá, nesse âmbito, «Sei lá!», de Bárbara Tinoco e «O meu avião de papel», de Carolina Deslandes, tenham sido os únicos momentos altos. Nem Gisela João, nem Sara Tavares, nem Mariza, nem António Zambujo, nem Ana Moura, nem Áurea – para citar alguns dos rejeitadores… – apareceram. Mesmo no final, com o público a aplaudir, maioritariamente de pé, os artistas não voltaram ao palco para uma esperada última canção que porventura reunisse os três. E os espectadores saíram, assaz silenciosos, o que contrastou com a algazarra entusiasmada que se sentira na plateia e nas patilhas antes de o espectáculo começar.
Presença constante no palco foi, porém, a de um senhor (senhor seria?) disfarçado de elefante de peluche, o simbólico elefante trombudo que já aparecia no cartaz. As crianças e as jovens entravam, abraçavam-no, faziam fotos, selfies, numa azáfama que terminou, mau grado as insistências, quando se chegou às 21 e 30, hora prevista para o começo do espectáculo. Mesmo no decorrer dessa tertúlia, o diacho do elefante não deixou sossegado o «Bichinho», o russo Feodor Bivol, namorado de Bárbara, que, à viola, acompanhou as actuações; fazia-lhe cócegas nas orelhas, beliscava-lhe as pernas…
Há que dizer que o cenário foi o de um supermercado. Aí pelas 21 e 39, uma voz anunciou «5 minutos para abrirmos a loja». Aí se consciencializou que os três adereços pendurados eram mesmo carrinhos de compras de supermercado. Bárbara (elegante no seu trajo de colegial) e Agir deram em carregar caixas com a palavra CANÇÃO na etiqueta, enquanto Carolina foi enchendo a grande prateleira branca, sita do lado direito da cena, onde o elefante também quis fazer bilharetas, mais tarde, roubando embalagens… Painéis pendurados anunciavam que no corredor 1 havia MELODIA, no 2 LETRA, no 3 HARMONIA.
Às 21 e 49, Carolina e Bárbara bateram palmas, e Agir foi ao cavalete e substituiu por ABERTO o cartaz que dizia FECHADO.
Garantiu-se, no decorrer do espectáculo (houve momentos divertidos, isso houve!), que Bárbara Tinoco nunca se deitava depois da meia-noite. Seriam para aí umas vinte e três e vinte quando as portas do Salão Preto e Prata se abriram para a saída. Também neste dia Bárbara pôde deitar-se antes da meia-noite! E nós também!