O JORNALISMO É SEMPRE INCONVENIENTE

Russos e ucranianos tentam a todo o custo evitar que os jornalistas relatem o que não lhes é conveniente e, por isso, reportagens como a que o Washington Post publicou em 7 de setembro de 2022 são preciosas.

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A prosa inicia assim: “Em quartos de hospital mal iluminados no sul da Ucrânia, soldados com membros cortados, feridas de estilhaços, mãos mutiladas e articulações despedaçadas relataram o combate que travaram em clara desvantagem perante o inimigo, nos primeiros dias da nova ofensiva para expulsar as forças russas da cidade estratégica de Kherson.”

O artigo é sustentado por uma série de entrevistas a militares internados em hospitais militares na Ucrânia. O trabalho do jornalista John Hudson só foi possível graças a alguma falha na engrenagem da segurança e propaganda que a Ucrânia usa como armas de guerra contra a Rússia. Algumas fotografias são terríveis. Os relatos impressionam.

 “Eles usaram tudo sobre nós”, conta um soldado que sobreviveu a cinco horas de bombardeamento russo com bombas de fragmentação e morteiros. “Quem pode sobreviver a um ataque assim?” Uma questão retórica mas elucidativa de que os estragos sofridos não são apenas físicos.

“Perdemos cinco pessoas por cada um deles”, confessa outro militar ucraniano. Hoje, só quer voltar para a quinta da família onde criava porcos e dava milho às galinhas.

A maioria dos relatos foram feitos sob anonimato. Nenhum militar ucraniano quer cair em desgraça nas mãos da segurança do Estado e ser acusado de traição, como tem acontecido a muitos.

Contam que a artilharia russa está fortificada em bunkers de betão que aguentam com ataques de morteiros e mísseis. Os tanques saem, posicionam-se, disparam contra as posições ucranianas e recuam imediatamente para os bunkers de betão.

Confirmam que a tropa russa utiliza drones capazes de localizar os movimentos dos ucranianos, transmitir o posicionamento e coordenar o tiro da artilharia. Esses drones voam suficientemente alto para não serem detetados a olho nu. E dizem que os russos têm radares que localizam a artilharia ucraniana ao primeiro tiro. Contam, ainda, que os russos têm meios eletrónicos que capturam os drones ucranianos em voo e os neutralizam. É uma guerra muito mais tecnológica do que parece.

Muitos soldados não voltarão a combater, apesar de dizerem que estariam prontos para isso. Mas perderam braços ou pernas. Ficaram surdos ou cegos.

A Ucrânia reclama que a ofensiva em curso, na região de Kherson, já permitiu a reconquista de algumas aldeias, mas não há modo de confirmar a veracidade do que Zelensky diz nas suas mediáticas ações de propaganda. Pela leitura deste artigo do Washington Post também ficamos sem certezas quanto a isso. Os soldados entrevistados dizem que se trata de informação sensível e que estão proibidos de falar sobre esse assunto.

O jornalismo tem alguns inconvenientes, quando é bem feito. É o caso deste artigo do Washington Post. Zelensky não deve ter gostado.

Ninguém sabe dos mortos e feridos na guerra da Ucrânia. Não há números fiáveis. Ambos os lados omitem as suas baixas e, muito provavelmente, exorbitam as do inimigo. Informações provenientes das máquinas da propaganda sobre avanços e recuos, não se conseguem confirmar através de fontes independentes ou observação direta de jornalistas.

O artigo é extenso, mas os relatos de guerra são sempre emocionantes. Quem souber inglês e tiver interesse, o caminho é por este link.

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