Lá no alto da Serra da Ossa, o Castelo de Evoramonte mantém-se altivo desde há, pelo menos, 10 séculos. Mil anos de História e de transformações sociais, políticas e económicas. De onde antes se observava o trabalho dos servos e as movimentações do inimigo castelhano, hoje observamos o trabalho dos espanhóis (e outros) da agroindústria com os seus olivais intensivos e amendoais a perder de vista. Uma mancha verde alimentada gota-a-gota pela água do grande lago luso-espanhol do Alqueva. Tudo junto diluiu a linha de fronteira e já ninguém sabe bem onde começa Portugal e acaba Espanha.
Ali foi chão de mouros até ao século XII, quando o território foi dominado por um temível grupo de aventureiros, salteadores e proscritos, comandados por Geraldo Sem Pavor, que matavam a favor do rei de Portugal.
Vem desse tempo a lenda da moura, uma história triste que conta a má sorte de dois apaixonados que viram os seus planos de casamento interrompidos pelo primeiro cerco ao castelo. O noivo, um nobre mouro, acabou morto em combate e a jovem donzela foi encarcerada e abusada até à morte. Desde essa data, diz o povo, que o fantasma da moura aparece nas noites de São João, a cantar uma triste canção de amor e a pentear os seus longos cabelos na borda de um poço, a que chamam de “poço do clérigo”. Enfim, não há lenda que não encerre alguma parte de verdade.
Outra história terrível e mais factual é a que envolveu Dom Jaime, o quarto duque da casa de Bragança, obrigado a casar por conveniência do reino com Dona Leonor, uma herdeira de famílias importantes de Castela. Acontece que o homem não queria aquela mulher que acabou por esfaquear até à morte.
Depois disto, Jaime refugiou-se no seu castelo de Evoramonte, onde se dedicou a estranhos rituais religiosos. Era um louco que, ainda assim, foi “recuperado” pelo rei Dom Manuel I com o propósito de o enviar para o Norte de África conquistar terras e matar infiéis. Uma tarefa cumprida a preceito.