Assunção Esteves: a filha do alfaiate abandonou os pobres

Foi na Pastelaria Versailles. Quase em segredo, encontrei-me várias vezes com Assunção Esteves, a ex-presidente da Assembleia da República, para falarmos das nossas prisões, transformadas em infernos, e dos orfanatos que prendem crianças por ordem de juizes insensatos.

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Era na Versailles que Assunção gostava de esquecer as suas origens democráticas e transmontanas, pelo modo como falava com os empregados: “ Foi isto que lhe pedi?!“

Foi no tempo que Assunção Esteves abjurava Passos Coelho e queria pôr em prática o “projeto de visita da sociedade civil sem aviso” a sítios obscuros. Como prisões, infantários, lares, colégios especiais, orfanatos e mais sem número de organizações que vivem para lá dos nossos olhos. E do escrutínio imediato das instituições da nossa sociedade democrática.

Reforma dourada por inteiro aos 42 anos

Estudei Direito ao seu lado, andei pelos mesmos corredores e soube do seu dedicado pai, alfaiate, que lhe arranjou emprego num Ministério, que ela desvalorizou: “era o que faltava!”.

Mas foi à boleia da primeira maioria absoluta de Cavaco Silva para  a Assembleia da República. Depois veio a revisão da Constituição de Jorge Miranda, para ela que tinha estudado essa improvável matéria.

Mas as suas modestas origens transmontanas e o queimar de pestanas foram coisas arrasadas pelas alcatifas de São Bento. Tornou-se insensível. A cereja em cima do bolo foi a reforma por inteiro aos 42 anos, depois de 10 anos no Tribunal Constitucional.

Os lares, orfanatos, colégios especiais ou as prisões continuam a ser notícia pelas piores razões. Mas Assunção Esteves apenas lê jornais alemães. E sabe logo pelas roupas qual é a fila no aeroporto para o avião rumo a Portugal!

Que desilusão, Assunção! Há 24 anos a viver no “bem-bom” à conta do orçamento!

notícia publicada em 12 de setembro de 1998

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