Decerto como eu muita gente terá achado piada ao facto de, logo no início da pandemia, prontamente se ter dado a sugestão de lavar as mãos com sabão azul e branco. Uma velharia, éramos capazes de pensar, a que ora de novo se queria recorrer, por se haver reconhecido o seu valor.
Tínhamos, de facto, em casa sabão azul e branco. Aliás, julgo que foi produto que por aqui nunca faltou. De resto, a minha convivência com ele vem desde criança. Nas décadas de 40 a 60, trabalhavam nas pedreiras de Cascais homens solteiros vindos das Beiras, do Alentejo e do Algarve. Minha mãe, que sempre conheci a trabalhar em lides complementares das domésticas, era uma das mulheres a quem eles pagavam para lhes tratar da roupa. E era com sabão azul e branco que a Maria dos Santos esfregava as calças de ganga, as camisas de flanela, as camisetas de algodão, os peúgos de linha…
Tive há dias uma rotura na canalização da cozinha. Foi necessário retirar tudo quanto se guardava sob o guarda-loiça e pasmei! Cerca de cinquenta embalagem de lá saíram! De lixívias várias, amaciadores para a roupa de cor e para a roupa branca, detergentes com as mais diversas finalidades… 46 embalagens contei eu! E lembrei-me das virtudes do sabão azul e branco, que ele, sozinho, amaciava e erradicava fortes sujidades da roupa branca e da roupa de cor, manuseado a preceito pelas mãos de minha mãe.
As ideias foram-se atropelando, vertiginosas, enquanto preparava o telemóvel para fotografar todo aquele arsenal de limpeza, de cuja existência só agora, vendo-o assim reunido à luz do dia, eu tomava plena consciência. Ai, o meu rico sabão azul e branco! E a todas se sobrepunham as do lixo que o Miguel Lacerda e o seu esquadrão da Associação Ambiental CASCAISEA amiúde mostram, depois de mais uma campanha de limpeza na costa. E aqueloutra, também frequentemente chamada à colação, em que as embalagens de plástico são já como uma ilha no meio do oceano…
Vivemos melhor. «Pronto a usar», «desinfectante de tecidos» «desinfectante mãos», «desinfectante superfícies», «eficaz contra bactérias e fungos»… Uma infinidade! Diante das prateleiras do supermercado, perdemos minutos a ler, a observar… «Será melhor este ou aquele?», «Deixa-me ler», «Quanto custa?», «Ah este é para as lãs e o algodão»… Sim, descobriram mil formas de nos facilitar a vida. Facilitarão?
Ah! meu abençoado sabão azul e branco!
De: Cecília Travanca
22 de maio de 2022 20:01
Olá
Achei particularmente interessante a tua crónica. Simples mas certeira. Nada como o sabão azul e branco. Falta- te um pormenor: uma amiga que tinha como tio um distinto oftalmologista ainda agora me lembra que para infeções nos olhos a receita infalível era o sabão. Gotas? Pfff
Oh! Quanta inspiração! Mais uma crónica extraordinária! Como se pode produzir um texto invulgar, inspirado no tão prosaico sabão azul e branco!
A verdade é que tenho sempre em casa um rectângulo desse material, para fazer desaparecer nódoas que teimam em resistir a outros produtos de lavagem.
De: Paula Dias
23 de maio de 2022 11:14
Eu faço parte dos que restringe ao máximo essa “paranóia dos super detergentes”.
E sim, sabão azul e branco, sobretudo na higiene pessoal e na roupa junto ao corpo. não há cá alergias, nem coceiras. e o cabelo é lindo!! Quando me perguntam a receita da ausência de rugas, de caspa e do cabelo portentoso, eu sussurro, com vergonha, “sabão azul e branco”. Mas, se calhar, vou passar a berrar aos quatro ventos!
De: maria helena coelho
23 de maio de 2022 13:01
Como tens razão!…
Eu também tenho em casa sempre o azul e branco ( e nem sou monárquica!…)
Mas, é inevitável, também por aqui se encontram “poluentes” . Não os fui contar… mas parecem-me que não chegarão a 45…
Escreve sempre. Pode ser que as palavras “não caiam em saco roto”!…
Eu tomo atenção ao que dizes.
De: Amadeu Homem
23 de maio de 2022 13:24
… e vai mais um, na utilização muito frequente do sabão azul e branco!
De: António Campar
23 de maio de 2022 13:35
É mesmo isso, o poder da publicidade e a nossa condescendência…
De: Adelaide Chichorro Ferreira
23 de maio de 2022 14:18
Se é para espairecer deixe-me contar-lhe que há dias trouxe para casa água de colónia em vez de detergente para o chão. É que já nem leio os rótulos, quando vou às compras, sempre a correr: oriento-me mais ou menos pela cor da embalagem, meto no cesto e pronto. Só em casa, passados muitos dias, reparei que não estava a deitar detergente no balde…
PS. Sim, aqui usamos ainda muito sabão azul.
De: Julia Neves
24 de maio de 2022 00:20
Parecia que estava a ver o meu armário dos produtos de limpeza!
Porém, o velhinho sabão continua a bater muitos dos nossos produtos de limpeza caseira. Lembro que, muitas vezes, problemas dermatológicos se resolvem com o uso de sabão azul e branco; pelo mesmo motivo é o melhor para lavar as roupas dos bebés.
Foi preciso vir a pandemia para ocupar o lugar de destaque, que merece.
Isabel Maria
Em minha casa nunca faltou o sabão azul e branco, foi hábito adquirido desde essa época mesmo junto de meus pais. É com ele que ainda lavo as mãos!..
Regina Anacleto
Gostei de ver o seu “arsenal” de produtos de limpeza! Sabão azul e branco, também há em minha casa. No tempo da guerra de 38/45 a minha mãe fazia, em casa, sabão a partir das borras de azeite, misturadas com potassa e não sei quantos mais ingredientes. Vertia este composto num recipiente de lata que tinha a forma de barra de sabão e deixava secar. Depois, cortava aos quadrados.