Lembro-me das palavras da Maria Judite, “a melhor resposta é a que fica por dar”, mas não consigo. As melhores palavras são as primeiras que saem, purinhas, o fogo de palha, que arde num instante e depois se extingue; esclarece sem se tornar na água choca portuguesa. Serão as palavras mais insensatas, não servirão para o trabalho diplomático, mas as únicas que têm sentido. As que suporto. Aquilo que me parece lógico.
Portanto, escrevem aqueles Exma. Sra., Vossa Excelência, o seu maravilhoso trabalho… quer trabalhar de graça? Temos aqui uma proposta maravilhosa para si. Tenho vontade de responder: Caro senhor, fui ao dentista a semana passada tirar um molar. Demorou menos de uma hora. Paguei 100 euros. Não achei caro.
A seguir vou colocar um implante que custa 1500 Euros. Um implante é um parafuso que atarraxa no osso do maxilar sobre o qual se acopla uma coroa de um material que eu gostava que fosse ouro, para parecer uma escritora do terceiro mundo, mas não tenho papel. Quantas horas de trabalho vossa excelência me está a propor por 75 euros? Assim. Sem mais. Só isto. É a única resposta que me ocorre e a única válida. A que se deve dar. É o que respondo mentalmente. Devo pensar e responder depois? Sim. Então, não devo? E se amanhã a minha resposta for a mesma?
(in Diário da Revolta, 7 de fevereiro – Facebook de Isabela Figueiredo)