Joana em cena

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A Joana Amaral Dias perdeu-se. Mais do que já estava. O vídeo que fez para o Instagram a comprar comida com amigos no MacDonalds sem mostrar o certificado é cobarde e falha o alvo. Fanfarronice. Achei triste. Comprar artigos do MacDonalds ao balcão depois de os escolher, encomendar e pagar nos postos automáticos não é grande feito.

Coragem seria sentar-se num restaurante normal, encomendar ao empregado e conseguir comer e sair sem mostrar os documentos sanitários. Ou então filmar-se a sair com ruidoso arrastar de cadeiras, depois de verbalizar que não o tem ou não o mostra. Isso é que seria de mulher.

Comer no MacDonalds não é bem jantar. Pelo menos para eles. Percebeu-se que não costumavam ir ali. Não sabiam usar as máquinas. Não conheciam o lugar nem o menu. A senhora da salada pediu uma salada. Não comia daquela comida. O homem que não usava máscara queria que lhe encomendassem um hambúrguer de frango para não ter que comer os de pseudovaca. O frango do MacDonalds é mais autêntico do que a vaca. Estavam todos nervosos. O homem era o que pior controlava, embora saltitasse cheio de adrenalina. Devem ter bebido umas bicas duplas para arranjar coragem. Foi ele que perguntou à funcionária do balcão se podiam comer lá dentro, o que gerou a pergunta não respondida “têm certificados de vacina?” Caso contrário, a Joana teria sido servida do seu hambúrguer, como a outra senhora o foi da salada, sem mais.

Os funcionários destes take away, porque é o que são estes locais, não têm vida para controlar passes sanitários. Têm de atender os carros do drive. Não havia ninguém na sala. Aquilo era um sítio frio, um sítio de passagem.A rapariga que lhes entregou os sacos fez a pergunta, mas não tinha interesse na resposta. Aliás, não lhes deu tabuleiro, mas saco, logo, tratou-se de um take away. Se lá aparecesse a polícia estaria defendida. Se comem o take away na sala de refeições de um sítio que parece um cenário de Wim Wenders numa estrada no Texas não é da sua conta. Mas agora também não há polícia tal como não há Governo. Só lá para o mês que vem ou isso.

Ontem também consegui comer uma sopa no Fórum Almada sem mostrar certificado, mas tive sorte. O homem da sopa de pedra que estava à minha frente já tinha a fotocópia das vacinas preparada mas dobrada. Voltou a enfiá-la na carteira. A rapariga não pediu. Segui os gestos todos. Dele e dela. Se o homem tinha passado, passaria eu igualmente. Foi. Mas não tento o restaurante. Ia perder tempo e fazer fita. Não tenho a mínima vontade de me filmar a fazer fita, embora por vezes as faça. Ter-me colocado na posição de enfrentar a empregada, fazer o pedido e arriscar ouvir a pergunta foi um bocado mais nobre. Tal como a Joana, fintei o sistema, mas não foi uma refeição a sério, no sítio convencional e não serve para nada. Contornar o sistema não o muda, apenas nos permite obter bens. É possível contornar o sistema de diversas maneiras. Todos os portugueses são especialistas.

P. acha graça ao facto de eu ter certificado de vacinas e viver como se não o tivesse. Vivo como sempre vivi com outras vacinas. Não carrego o certificado atrás. Faço por esquecer. Tornei-me uma rata velha. A parte boa de ter tido Covid é que até final de Julho ninguém me vai pressionar para ser vacinada de novo. Fiquei com medo. Não sou de medos. É provável que o meu corpo aguentasse mais vacina sem chiar. Mas não é certo. Endocardites e coisas assim convém ficarem para quem é fã de enfermaria Quando chegar a altura de me voltarem a chatear já devem ir no final da quarta dose, início da quinta. Com um bocado de sorte, pode ser que me escape.

Acordaram-me com barulho de obras no prédio às 8h30. Levantei-me, comi uma bolacha de manteiga, bebi um golo de água, enfiei os tampões de cera nos ouvidos e voltei a meter-me na cama com as cadelas. Tenho de ser capaz de deixar de comer bolachas de manteiga. São fatais.

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