Os 200 milhões de euros orçamentados no projeto RIVART sobrepõem-se a qualquer outra coisa e o mural do Vhils foi destruído. Podia ter sido preservado. Hoje não há obstáculos técnicos para a engenharia e tudo é permitido à criatividade dos arquitectos. Mas os construtores civis continuam a ser “patos bravos” e o dono da obra quer lá saber de artistas.
Enfim, nada dura para sempre, como diz o próprio Vhils no Instagram quando confirmou a destruição de mais uma das suas obras de arte. E já são duas que Lisboa perde.
Noutras partes do Mundo, a arte de rua e os grafitti são olhados com olho crítico e já aconteceu paredes inteiras serem “roubadas” para que a pintura mural possa ser transportada, escondida e vendida. Aconteceu em Inglaterra, tal e qual relatámos em novembro no artigo “Um fantasma que pinta murais”.
Nada dura para sempre, mas é uma pena quando se descaracteriza uma cidade. Descaracterizar significa matar-lhe a alma, eliminar tudo aquilo que faz uma cidade ser diferente de outras, ser um sítio único, original. Lisboa é cada vez menos isso e o bairro de Alcântara acaba de morrer. Não apenas porque ficou sem o mural de Vhils, mas porque perdeu as ruelas, as tascas, os bares. Vai perder a boémia e a alegria atrevida dos noctívagos.
Em troca de quê? De vários edifícios de 9 pisos acima do solo, destinados a escritórios e a 230 apartamentos de luxo.
Por enquanto, ainda sobra uma parte do Lx Factory, embora de dimensão cada vez mais reduzida. Ao fundo da rua já desapareceram alguns edifícios onde funcionavam restaurantes e comércio. E a tendência será para um dia ir tudo abaixo. A Lx Factory pertence ao fundo de investimento francês Keys Asset Management que, como é evidente, não se contenta em receber rendas de lojinhas de artesanato ou de pequenos restaurantes vegan. Eles querem lá saber, não são Hippies, são Yuppies.