O Luís Osório diz que o Rogério tinha mau feitio e que não fazia concessões à verdade. Que incomodava com o seu perfeccionismo. Pode ser isso. Mas não. Muitos atores de mau feitio e até mau comportamento são apreciados.
O Rogério foi um galã, era muito giro e geralmente isso cobra-se caro junto dos críticos. Quando se é homem. Pode ser. Mas há outros atores reconhecidos pela beleza que são exaltados pelas elites, como o Alain Delon, por exemplo, com as devidas distâncias, mas a quem não entrevi muito mais do que um rosto belo.
O Rogério era português. Sabemos como nos custa reconhecer os “nossos”, até que alguém lá fora os reconheça primeiro. Pode ser por aí. Mas atores nacionais que já fizeram filmes em Hollywood também não são especialmente agraciados pelos bem pensantes cá.
O Rogério fazia telenovelas, para sobreviver ou viver melhor. Penso que é isso. A participação em televisão é geralmente vista como menorizante. Tendo em conta como as estações portuguesas se guerreiam entre si, com gaffes e sensacionalismos, a cotação das mesmas não é efetivamente grande coisa atualmente. A ser assim, é injusto que um ator – ou atriz – seja reduzido ao seu estatuto televisivo quando outras artes se anteciparam e lhe puseram o rosto e a voz no grande ecrã ou no palco. As elites intelectuais silenciaram-se nesta morte.
No Brasil, essa linha preconceituosa entre teatro, cinema e televisão é, felizmente, quase inexistente. Focam-se no talento individual e esse pode ser transversal. Sempre pensei que os brasileiros são mais abertos, mais descomplexados e mais felizes do que nós.