Vem aí outro romance de Fernando Dacosta com o título “Apoteose”. Mais uma grande obra, aguardada com muita expectativa.
Dacosta nasceu em Luanda, na Fazenda Tentativa, onde o seu pai trabalhava. Aos 3 anos veio para Portugal. Aos 21 era jornalista na Europa Press.
Por volta de 1964, Salazar tentou uma ação de charme internacional e convidou a Imprensa estrangeira para privar um pouco com ele.
E Dacosta foi pela Europa Press. Jornalista de pendor anarquista, pode observar o ditador de perto, de forma mais íntima. O seu testemunho é hoje muito precioso. E é uma delícia ouvi-lo.
José Cardoso Pires levou Dacosta depois para o ‘Diário de Lisboa’.
Passou pelo ‘Comércio do Funchal’, ‘Vida Mundial’, ‘Diário Notícias’. Foi jornalista incontornável em ‘O Jornal’, de grandes saudades. E mais tarde co-fundador do ‘Público’ com Vicente Jorge Silva. Conheci-o em ‘A Luta’, jornal com o subtítulo “Socialista, Pluralista e Independente”. Que era um grande arrazoado, repleto de jornalistas notáveis, de onde sobressaía Fernando Dacosta.
Hoje sentei-me com ele na esplanada do ‘To Good’, em Belém, e recordei o seu conselho na redação da Rua do Loreto, em ‘A Luta’: “se quer sobreviver nesta sala seja humilde, porque está cheia de vedetas insuportáveis”.
O jornalismo já, então, era assim. O País também continua a ser.
Ouvir Dacosta é juntar dois mundos avessos. É perceber o Portugal de hoje com as raízes funestas de 2 dúzias de famílias, que antes do 25 de Abril de 1974 já esmifravam Portugal.
Ouvi-lo é desconcertante e cruel.
Entre as suas melhores obras, prefiro ‘O Jipe em segunda mão’, ‘Máscaras de Salazar’ e ‘O Viúvo’ da editora D.Quixote, hoje chancela da Leya. Nestes livros viajamos até aos tempos de Natália Correia que atormentava a Ditadura e a Democracia.
Bem-aventurado Fernando Dacosta, jornalista anarquista, digo eu também. Venha essa ‘Apoteose’ porque é bem merecida e… desejada por todos.