Fui, hoje, vacinado contra a Covid.
Recebi a informação, há três dias, de que tinha chegado a minha vez na qualidade de velho. Escrevo velho porque não respeito o Acordo Ortográfico. Caso contrário, teria escrito “idoso”.
Fiquei estupefacto quando da primeira leitura da mensagem. Informavam-me que seria vacinado, no dia 21 de Abril, às 11 horas e 12 minutos. Este preciosismo deixou-me boquiaberto até que me lembrei que, agora, a vacinação estava a ser gerida por militares e estes são rigorosos nos horários. Daí que tenha preparado toda a agenda do dia de modo a poder corresponder aos novos critérios no que respeita à pontualidade.
Certo de que, antes de entrar para a sala da vacinação, teria de preencher alguma papelada (com militares ou sem militares continuamos em Portugal), estacionei o carro à porta do local indicado e entrei quinze minutos antes da hora. Um mar de gente e uma senhora da Protecção Civil a orientar.
– “Tenho a marcação para as 11 horas”, disse um dos presentes.
– “Nome?”, perguntou a Senhora.
– “José da Silva”, respondeu o homem.
Consulta aos papéis e a resposta:
– “Siga-me, por favor”.
Passados poucos segundos a Senhora regressou e, logo, outro indivíduo:
– “Eu tenho para as 11 horas e 34!”
– “Nome?”, questionou, de novo, a Senhora.
– “Alberto Costa!”
Consulta aos papéis e aí vai o Senhor Alberto e a Senhora.
Quando esta regressou eu avancei:
– “Minha Senhora, eu tenho marcação para as 11 horas e 12 e estão a entrar pessoas com marcação para depois dessa hora…”
– “Nome?”, perguntou de novo.
– “Vítor Ilharco”, respondi.
Consulta aos papéis e mandou-me segui-la. Junto de uma mesa entregou-me um papel para preencher e indicou-me a pessoa a quem o devia entregar de seguida. Vinte segundos e o documento ficou pronto.
Eram cerca de dez perguntas, sobre a nossa saúde, à frente das quais havia dois quadrados, com a indicação “Sim” e “Não”, que devíamos assinalar com um xis.
“Foi operado recentemente?”, “Tem alergias”, “Sofre de cancro”, etc., etc..
Respondi a todas as questões menos a última porque pensei que o médico de serviço conseguiria a resposta sem a minha colaboração.
– “Esteve grávida no último ano?”
Posto isto, entreguei a folha e fui encaminhado para uma sala de espera onde estariam uns cem pacientes.
(E agora sei, melhor, a razão do nome que foi dado aos utentes dos Serviços de Saúde!)
Entrei cinco minutos antes da hora para a qual fora convocado. Missão cumprida.
As pessoas foram sendo chamadas, pela instalação sonora, para a área da vacinação, a um ritmo razoável. Às 11 horas e 10 minutos levantei-me consciente de que estaria por segundos a minha chamada. Às 11 horas e 30 minutos tornei a sentar-me.
Os nomes sucediam-se e comecei a temer que o meu papel se tivesse perdido. Passei pelas brasas.
Acordei às 12 horas e 5 minutos e pensei que me tinham chamado sem eu ter percebido. Hesitei: vou explicar que adormeci, e que não ouvi o meu nome, ou espero um pouco mais? Dez minutos depois fui chamado.
Perguntei se era a primeira chamada, ou se eu não tinha ouvido, e tranquilizaram-me:
– “Não! É a primeira chamada!”
A explicação ficou clara para mim. Estando a cargo dos militares o sargento que me mandou a mensagem tinha trocado os números e escrito 11 horas e 12 minutos e não 12 horas e 11 minutos.
A vacina foi rápida e ministrada, com grande profissionalismo, por uma enfermeira simpática e divertida. Antes de ir para a sala do recobro deu-me o cartão com a marcação da data e hora da 2ª dose: 14 de Julho às 10 horas e 22 minutos.
Fiquei a temer o pior. Em termos de horas a confusão pode ser maior. Será às 10 da manhã e 22 minutos ou as 10 da noite (22 horas) e 10 minutos? Uma coisa é esperar uma hora, outra é esperar doze! Vou perguntar à Protecção Civil.
De qualquer modo o pessoal que ali se encontrava era bem simpático e está habituado a aturar a velhada!