Foi apresentado como um projeto camarário destinado a apoiar o comércio local e a ideia de pintar o chão das ruas era precisamente para “dar nas vistas”, chamar a atenção. A Rua dos Bacalhoeiros foi uma dessas ruas escolhidas para tomarem uma cor diferente. Calhou ser azul.
Os pintores mal tinham começado a tarefa e já choviam críticas. Porque a tinta era tóxica e ia acabar a poluir o ambiente, porque bastava tornar a rua pedonal, porque era dinheiro mal gasto, porque era feio, porque era piroso, porque amarelo é que era, enfim… vontade de criticar não faltou.
O que nunca ninguém contestou foi o critério da escolha das ruas. No caso da Rua dos Bacalhoeiros, por exemplo, trata-se de um troço com 100 metros, aproximadamente. A seção entre as interseções com a Rua da Padaria e a Rua dos Arameiros. Uma pequena parte da rua com dois ou três restaurantes, apenas. Mais duas ou três lojas de produtos diversos. A maior parte da rua continuou como estava, com asfalto negro e tráfego rodoviário. Ou seja, na verdade, ali não fazia muito sentido chamar a atenção para o comércio local por várias razões, entre as quais já ser uma zona turística dada a proximidade com o Largo José Saramago e a Casa dos Bicos. Depois, porque a maior parte do “comércio” local é composto por restaurantes, atividade que naquela altura já não tinha mãos a medir para satisfazer a demanda, numa cidade sempre a abarrotar de turistas o ano inteiro.
Depois, chegou a pandemia. E o apoio que o comércio local realmente precisa não vem da cor do chão. Indo hoje à Rua dos Bacalhoeiros vemos o azul do chão a debotar e tudo fechado, restaurantes a ganhar bolor e lojas de artesanato com teias de aranha. De porta aberta, apenas a loja que vende produtos derivados de cannabis. Nestes tempos, a “viagem” pode ser uma tentação para muitos dos que estão fartos de confinamento.