Bom senso, o que falta a Portugal!

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A noite das eleições presidenciais foi para muitos motivo de sobressalto. Esquecem-se é das razões que levaram àquele resultado e, quase como que num compasso de magia, querem
atribuir culpas aos portugueses, como se fossemos todos irresponsáveis, fascistas, extremistas. O que sabemos bem não ser verdade. Devíamos perguntar o que leva quase 500 mil eleitores a votar num partido como o Chega.
Que fique claro, não gosto de extremos. Sejam de direita ou de esquerda. E farei com o Chega o que toda a vida fiz com o Bloco de Esquerda e com o Partido Comunista Português, combatê-los-ei democraticamente com propostas e com ideias.


Atribuir a todos os eleitores que votam na extrema-esquerda a ideia de que são comunistas e
totalitários e que apoiam a Coreia do Norte e a Venezuela é tão errado como atribuir a todos os
eleitores que votam na extrema-direita a ideia de que são fascistas e nazis. O que importava mesmo perceber são as causas. O que leva um cidadão a votar nestes partidos? E isso, verdadeiramente ninguém quer fazer. Dá trabalho e chegariam à conclusão de que a culpa está nos partidos do “sistema” cujas sobrevivências passam por depender do Estado e de terem na mão a máquina da função pública. É isso que dá verdadeiramente votos e leva a que Portugal não saia deste marasmo em que vive desde o 25 de Abril de 1974.
Portugal nunca evoluiu a uma velocidade única, há vários “portugais” dentro de Portugal. Há um Portugal do interior e do Norte esquecido e abandonado. Não foi à toa que o candidato do “bom senso”, Vitorino Silva, disse no debate com o candidato e presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que não se importaria de mudar o Palácio de Belém para Mogadouro, Sabugal, Vila Verde, Lousada, Penafiel, Ponte de Lima, Serra D’El Rei ou Aljustrel.

O que na verdade este candidato estava a dizer é que Portugal precisa de evoluir e que temos de parar de olhar Portugal na bitola Lisboa–Porto. Portugal, efectivamente, não é só isso, há mais para além disso, mas para muitos parece que o carro ou o comboio só vai mesmo de Lisboa ao Porto.
O que leva milhares de portugueses a votar no extremismo não são propostas reais para o
país, que muitos deles nem conhecem os programas eleitorais ou o que verdadeiramente os partidos propõem ao país. O que os leva a votar nestes partidos são frases bonitas que eles gritam nas televisões e que os órgãos de comunicação social dão ênfase, sem questionar o que eles querem dizer.
Dentro do Portugal dos doutores e dos engenheiros, há uma maioria dos cidadãos, agricultores, pescadores, comerciantes, feirantes, ardinas, actores, músicos, electricistas, canalizadores, donas-de-casa, funcionárias das limpezas, pedreiros, empreiteiros, bombeiros, polícias, auxiliares de ação educativa, auxiliares médico, cantoneiros, varredores. E estes não vivem dentro das máquinas do sistema, não andaram na Universidade e nunca terão oportunidade de ter um bom emprego, um bom carro, uma boa casa e, o seu maior sonho, é proporcionar uma vida com condições aos seus filhos. É este o sonho de qualquer pai e mãe. Era também este o sonho dos homens e mulheres que lutaram pelo fim da ditadura que existia antes do 25 de Abril. O que nos leva a concluir que 46 anos depois do 25 de Abril de 1974 continua tudo mais ou menos igual. Saímos de uma ditadura, mas a vida continua a não permitir a muitos portugueses sonhar com um amanhã melhor.


O Portugal do salário mínimo nacional de pouco mais de 600€, o Portugal dos que como os
meus pais se levantam todos os dias às 5h da madrugada para que não nos falte nada em casa, o Portugal dos que levam uma vida a trabalhar para acabarem com uma reforma de pouco mais de 200€, o Portugal dos jovens que estudam uma vida e acabam a ganhar pouco mais do que o salário mínimo nacional, o Portugal dos que nunca conseguiram e não conseguirão ter casa própria mas que trabalham arduamente para isso, o Portugal dos esquecidos e abandonados. É este Portugal, que não tem acesso aos milhões da máquina do Estado, que vota no extremismo.
Felizmente, temos ainda uma franja da população responsável e que não vota no
extremismo. Procura, como eu, votar em partidos de bom senso, com propostas exequíveis, que ofereçam algo diferente a Portugal. Mas que infelizmente saem sempre derrotados nas eleições pelas grandes máquinas bem oleadas, cujas motivações não é o bem estar dos portugueses ou a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, mas antes as negociatas que os irão favorecer. Infelizmente é a este Portugal que parece estarmos condenados. O Portugal do fracasso, dos negócios, do nepotismo, dos favoritismos. Mas até quando? Até quando vai Portugal aguentar este caminho? É por isso que digo que o que falta a Portugal, é bom senso.

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