O Hospital de Arroios está ao Deus-dará há 27 anos, abandonado pela Câmara Municipal de Lisboa. Foi um importante convento do Colégio dos Jesuítas Missionários da Índia. Erguido em 1705, resistiu ao terramoto de 1755, mas sucumbiu ao desleixo dos governantes de Lisboa. Está assombrado. Diz quem por lá passa, à noite.
O gigantesco edifício foi desde sempre local de grande sofrimento. Primeiro por culpa do Marquês de Pombal. Um homem tão visionário como cruel. Mandou matar à marretada todos os Távoras, homens mulheres e crianças. E quis exterminar todos os padres, frades e freiras. Dizia-se, à boca escondida, que era o maçon mais estúpido à face da Terra. As freiras substituíram os jesuítas torturados nos corredores. Os sobreviventes foram enfiados em naus e jogados mar-a-dentro. A última freira morreu em 1890. Oito anos depois, o edifício recebeu o nome pomposo de Hospital Rainha Dona Amélia e foi destinado para tratar e prevenir a tuberculose.
Agora a Câmara deixou-o à mercê de privados para o transformarem em hotel. O problema foi o IPPAR que se atravessou no caminho, exigindo a manutenção de todo o edificado, à exceção dos acrescentos dos anos 40 e 50 do século passado. Esta imposição desmotivou os investidores e transformou o convento-hospital, num parque de estacionamento, com uma enorme e lindíssima igreja.
Muitos dizem ouvir de noite “ais” soprados por ventos, vindos das catacumbas labirínticas do convento. Mas serão “ais” muito fraquinhos, porque não chegam aos ouvidos de Fernando Medina. Aliás, o presidente da Câmara de Lisboa nunca terá experimentado pedalar na novel ciclovia da Avenida Almirante Reis, que começa mesmo às portas do Hospital de Arroios. Os “ais” não os ouve. E o triste espetáculo de abandono, também teima em não ver.