Qual será o meu problema?

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O que se passará comigo?

O que me leva a ficar espantado, boquiaberto, incrédulo, deprimido, com notícias que passam despercebidas à generalidade dos meus conterrâneos?

Porque é que eu considero inexplicáveis, graves, criminosas até, situações que os outros reputam normais?

Serei eu demasiado crítico? Picuinhas? Masoquista? Ou serão os outros excessivamente despreocupados e desatentos?

A verdade é que não vejo, no rosto da maioria daqueles com quem tento abordar alguns assuntos que considero alarmantes, a mais pequena sombra de aflição ou, sequer, de inquietação.

Vou tentar explicar.

Eu assusto-me com a notícia:

“A “Seguradora GNB Vida” foi vendida por 123 milhões a fundos geridos pela Apax. A operação gerou perda de 268,2 milhões, que foi compensada com nova chamada de capital do Fundo de Resolução. O negócio foi fechado com um magnata condenado por corrupção nos EUA.”

Qual foi a posição do Presidente da República? Voltou a pedir celeridade na conclusão da auditoria, mas já DEPOIS da venda concretizada.

Eu fico consternado com a quantidade de incêndios que têm assolado o nosso país e com o número de bombeiros que têm morrido.

O Presidente da República, que garantiu, há dois anos, que não demitiria o Governo se houvesse nova tragédia idêntica à de Pedrogão Grande, mas tiraria uma consequência (“Voltasse a correr mal o que correu mal no ano passado, nos anos que vão até ao fim do meu mandato e isso seria, só por si, impeditivo de uma recandidatura”), afirmou-se agora “preocupado com a vaga de incêndios” e admitiu interromper as férias em Porto Santo.

Não é bem o mesmo que anunciar que não se recandidatará e, assim sendo, não percebo a sua preocupação.

Eu admiro-me quando leio que Manuel Linda, bispo do Porto, questionado sobre um artigo publicado na revista do L’Osservatore Romano sobre a exploração de freiras por parte de membros do clero, disse: “às vezes algum bispo diz assim: “Ó minha irmã, você não tem aí duas ou três irmãs que queiram, por exemplo, na minha casa, fazer o almoço?”. E depois aquelas pessoas acabam por receber, de facto, uma quantia muito pequenina. Em termos do que nós chamamos o mercado de trabalho, seria uma verdadeira exploração. Verdadeira exploração. Entretanto, não nos podemos esquecer que são pessoas que, por opção, querem viver na pobreza. Estou convencido de que nessas circunstâncias, quando as pessoas trabalham para alguma estrutura da Igreja, devem ganhar o justo. Depois, farão com aquele dinheiro o que muito bem entenderem. O grande entendimento será o de dá-lo aos pobres. Se as pessoas querem viver na pobreza, óptimo. Mas então, aquilo que ganham, fruto legítimo do seu trabalho, que seja reencaminhado para um fim bom.”

Dias depois acusava o Governo de estar a “tentar cercear a presença da Igreja Católica na sociedade, por via do desinvestimento nos serviços sociais detidos pela Igreja” e exclamava bem alto: “O Estado não é pessoa fiável!”

O amigo cristão, a quem eu dei como hipótese ter o Primeiro-Ministro, seguindo o conselho dos bispos, chamado o Cardeal Patriarca e perguntado: “Ó meu irmão, você não tem aí dois ou três irmãos que queiram, por exemplo, nos serviços sociais da Igreja, fazer o almoço? Se as pessoas querem viver na pobreza, óptimo!” respondeu-me com um insulto pouco católico o que, reconheço, não é invulgar.

Eu vomito quando tomo conhecimento de que o Novo Banco (também conhecido como Banco Bom) vendeu 13 mil imóveis a um fundo anónimo naquele que foi considerado o maior negócio imobiliário em Portugal nos últimos anos. Foi uma “pechincha” que obrigou o Fundo de Resolução a cobrir as perdas de centenas de milhões. E o Novo Banco, para vender, ainda emprestou o dinheiro a quem comprou. Pouco se conhece dos felizardos compradores. Ninguém os escrutinou. Sabe-se, por exemplo, que um deles, de nome Barão, engenheiro de formação e pintor, e a sua companheira, registaram cinco sociedades imobiliárias de uma só vez. Todas com a mesma morada onde já tinham muitas outras, na loja de um Shopping. Por aí se pode ver o perfil dos restantes…

O que disseram os Partidos?

O Bloco de Esquerda garantiu que se tratava de uma fraude. Rui Rio disse que os negócios do chamado “Banco Bom” podem ser ainda piores do que agora se imagina. O PCP afirmou que, a ser verdade este negócio, estaríamos na presença de um crime económico contra o Estado Português. O Partido Socialista propôs que o presidente do Novo Banco seja ouvido logo na reabertura dos trabalhos parlamentares, em setembro.

De qualquer modo a venda já está feita para quê estragar as férias aos incansáveis políticos?

Talvez a minha mulher tenha (outra vez) razão quando desabafa: “Se fizesses como eles e fosses apanhar sol em vez de estares aí à pancada com o computador e a rogar pragas, com certeza que estarias com um ar mais saudável e tranquilo! Qual é o teu problema?”

Duas horas para escrever uma crónica e ela acaba a frase com a mesma pergunta do título que lhe dei…

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