Em plena campanha eleitoral, é muito raro ouvir um líder partidário expressar de viva voz condições para aceitar coligar-se ou apoiar um outro partido após o ato eleitoral.
A declaração do líder do partido Livre é de facto incomum no panorama político português. Por norma, os partidos tendem a evitar compromissos ou exigências demasiado concretas antes das eleições. Isto porque o peso negocial de cada força depende do resultado eleitoral e antecipar condições pode ser visto como um risco estratégico, pode afastar eleitores, limitar a margem de manobra negocial e até comprometer potenciais alianças.
Ao condicionar de forma explícita o apoio a um governo do PS à criação de um círculo de compensação, o Livre está a tentar pressionar publicamente o PS a comprometer-se com uma medida de reforma do sistema eleitoral que favoreceria maior proporcionalidade, que iria beneficiar partidos pequenos como o próprio Livre. E está a mostrar coerência com a sua agenda de democratização e reforma institucional.
O círculo de compensação que o Livre quer é um mecanismo para tornar o sistema eleitoral mais proporcional, ou seja, para que o número de deputados eleitos por cada partido esteja mais alinhado com a percentagem de votos que efetivamente recebem a nível nacional. Seria a maneira de matar o chamado voto útil, uma vez que todos os votos passariam a ter alguma utilidade na eleição de deputados.
AS LINHAS VERMELHAS DE CADA UM DOS ELEITORES
Seria muito interessante se os eleitores fizessem o mesmo. Isto é, se listassem as suas próprias condições para irem votar num qualquer partido. Ou seja, em vez de irem votar pela “cor da camisola”, escolheriam em quem votar pela coincidência entre os seus próprios desejos e as promessas expressas pelos políticos em campanha.
Por exemplo, eu irei escolher em quem votar, mediante as seguintes condições:
- Solução para a paralisia em que se encontra o SNS, nomeadamente com a falta de médicos de família, mais do que com as urgências a meio gás.
- Solução para os dramas crónicos com a colocação de professores nas escolas públicas.
- Solução para a falta de habitação social, em todo o país.
- Reconhecimento do Estado da Palestina.
- Apoio a sanções contra Israel e à execução dos mandatos de captura do TPI.
- Apoio a uma reforma da ONU que acabe com os privilégios dos membros permanentes no Conselho de Segurança.
- Apoio à via negocial para a paz na Ucrânia.
- Levantamento das sanções contra a Rússia, reaproximação entre a Europa e a Rússia.
Os vários partidos e candidatos têm uma semana para me convencer.