Mahmoud Ajjour tem nove anos, perdeu ambos os braços num ataque israelita na Faixa de Gaza. A acusação que a foto representa fez com que a atribuição do prémio de Fotografia do Ano do concurso World Press Photo 2025 ainda não tenha sido sequer noticiado em Israel.
A simplicidade do enquadramento acaba por amplificar o impacto emocional. Não há gritos, nem poses dramáticas, não há ação. Apenas um menino, com o olhar carregado de uma história que nunca deveria ser vivida por uma criança.

A repórter fotográfica palestiniana Samar Abu Elouf conseguiu capturar algo que transcende o jornalismo. É um testemunho e um apelo ao mundo. Quando uma fotografia nos obriga a parar, a respirar fundo, e a pensar na vida para além das nossas rotinas, sabemos que tem um poder real. E quem olhar e ficar insensível é melhor correr para um médico para se tratar.
Olhamos para uma foto assim e esperamos que algo tão poderoso como esta imagem possa mover o mundo. No íntimo sabemos que é uma esperança vã. Os assassinos já venderam a alma ao diabo e continuam a disparar mais bombas sobre outras crianças. Todos os dias.
Uma fotografia talvez não mude políticas nem detenha bombas. Mas vai abrir brechas. Vai abalar consciências, provocar conversas difíceis, criar empatia onde antes havia indiferença. E isso já é um começo. E é com medo disso que em Israel a notícia ainda não foi divulgada. Não há até agora declarações públicas de autoridades israelitas sobre esta fotografia em particular.
O silêncio oficial e mediático reflete a intenção de censurar. Se pudessem apagariam a fotografia. Não dar visibilidade, não nomear o sofrimento, é uma das formas mais cruéis de desumanização, quando a dor de alguém não é sequer reconhecida como digna de ser contada.
E, no entanto, o menino está na fotografia. A história está lá. A perda é real. Aos que leram este artigo e chegaram até aqui, aos que se sensibilizaram, obrigado. Porque quebraram esse ciclo de silêncio.
Sim, Carlos, urge quebrar o ciclo do silêncio. Os assassinos têm um nome. Que sobre eles caia o anátema maior!
Ninguém pode ficar indiferente a esta imagem aparentemente despojada.
Somos atraídos para a desnecessária mutilação de um menino obrigado a perder a inocência e a inverter a sua escala de valores.
Se reparamos no olhar vago, nas lágrimas suspensas das pálpebras, no sorriso travado por uma amargura que excede a sua capacidade de sofrimento, e ainda na magreza extrema num mundo de excedentes, percebemos que a fotógrafa deve ter alcançado tudo isso numa fracção de segundo. E disparou, não com uma arma de morte, mas com um instrumento de trabalho num registo de apelo à vida.
Combatam-se os inimigos entre si. Que não haja regozijo com o sofrimento de uma criança que brinca entre escombros, uma jovem que sonha com o futuro, uma mãe que segura nos braços uma criança de meses, acabada de morrer pouco depois de vir à luz.
O povo amargurado só quer viver em paz, sem venerar estrangeiros, ou pretensos defensores. Uma casa, um pedaço de terra, o pão de cada dia.
Tão onerosa lhe fica a sobrevivência!