A GUERRA SEGUE DENTRO DE MOMENTOS

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A trégua unilateral declarada pela Rússia é evidentemente uma jogada política. Destina-se a embaraçar os líderes ucranianos. Quem disparar o primeiro tiro durante o periodo da trégua ficará com a culpa do retorno da violência  e a imagem de quem não quer negociar paz alguma. Isto para uma narrativa noticiosa destinada a influenciar a opinião pública. Nos bastidores da política nada mudará, com respeito ou sem ele pela trégua.

Durante cerca de 30 horas, a Rússia comprometeu-se a parar om os combates para celebrar a Páscoa. O periodo é curto mas para os soldados que estão nas trincheiras será precioso. Já no Ocidente os analistas dizem que é tudo truque. No Oriente, outros analistas falam em antecâmera de negociações de paz.

Quando anunciou a trégua, Putin disse que a pausa nas hostilidades tem “considerações humanitárias” e que a resposta da Ucrânia à trégua demonstrará sua disposição para negociações de paz . No entanto, avisou que tinha instruído as tropas a estarem prontas para responder a quaisquer “violações da trégua e provocações do inimigo”.

Em Kiev, o presidente Volodymyr Zelensky rejeitou a trégua, Disse que entende a coisa como uma manipulação cínica.

Na China, o presidente Xi Jinping expressou satisfação com os esforços positivos de todas as partes para aliviar a crise na Ucrânia, mas lembrou que mais importante seria um plano de paz duradouro que atenda às preocupações de todos os envolvidos. ​

África do Sul e Brasil mostraram-se dispostos a organizar encontros entre a Rússia e a Ucrânia, para conversações diretas entre as partes.

Neste momento, a Rússia aparece como o ator “racional e espiritual” num mundo dominado por um Ocidente belicista. Temos Putin a oferecer uma pausa em época religiosa. Se for ignorado, será útil para narrativas anticoloniais em países africanos, latino-americanos e asiáticos.

Zelensky parece menos previdente. Quando recusou a trégua liminarmente deu oportunidade à Rússia de argumentar que (caso os combates prossigam) está a responder a provocações ucranianas.

Ou seja, a trégua é uma arma diplomática vestida de gesto humanitário. Nestes dias em que a credibilidade do Ocidente está pelas ruas da amargura com a cooperação militar e a benevolência política perante o genocídio dos palestinianos às mãos do exército israelita, a trégua de Putin é uma boa jogada.

Historicamente, tréguas raramente são um caminho direto para a paz. O mais recente exemplo que temos é o da mortandade em curso na Palestina. Israel celebrou algumas tréguas temporárias com o Hamas, alegadamente “tréguas humanitárias”, mas que na verdade apenas serviram para Israel ganhar tempo para a execução do genocídio dos palestinianos que está em curso.

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