Integrando a Rússia no mesmo projeto de desenvolvimento, a Europa iria adquirir escala e acesso a vastos recursos naturais. Basta olhar para o mapa para perceber a dimensão territorial de uma Europa com a Rússia.
A Europa é pequena, ao lado de potências como a China, a Índia ou os EUA. A União Europeia é ainda mais pequena e politicamente fragmentada. A Europa perdeu os impérios coloniais e está a perder influências nas antigas colónias. Em muitos países africanos, por exemplo, as empresas de mineração europeias estão a ser mandadas embora para serem substituídas por empresas nacionais. Há novas lideranças africanas que querem afastar de vez os interesses estrangeiros.
Sem os necessários recursos naturais, a Europa depende fortemente de importações de matérias-primas críticas. É uma vulnerabilidade só ultrapassável com políticas de verdadeira integração e cooperação. Mas têm preferido manter um status neocolonial em África e uma atitude de confronto com a Rússia, via NATO.
Este é, sem dúvida, um tema complexo e sensível. Mas a ideia de uma parceria estratégica entre a Europa e a Rússia sempre teve potencial, especialmente pela complementaridade entre as duas regiões: a Rússia com a sua imensidão territorial, riqueza em recursos naturais e posição geopolítica, e a Europa com a sua capacidade tecnológica e de inovação.
SONHAR COM A PAZ
Neste momento nada disto será possível a curto prazo. A Europa e a Rússia precisam de líderes visionários e corajosos. Mas sonhar ainda não é proibido.
Em vez de guerras, teríamos segurança energética, a Rússia tem vastas reservas de gás, petróleo e minerais estratégicos que poderiam ajudar a Europa a reduzir a dependência de fornecedores mais distantes.
Em vez de guerras, teríamos desenvolvimento tecnológico e industrialização. A Europa poderia contribuir com know-how tecnológico e investimento para modernizar setores industriais na Rússia.
Em vez de guerras, estabilidade geopolítica, com a criação de uma zona de influência mais equilibrada face à ascensão da China e à posição dominante dos EUA.
Em vez de guerras, aproveitar o avanço tecnológico da Rússia na exploração espacial.
A História mostra-nos que alianças, rivalidades e equilíbrios de poder estão sempre a mudar. O que hoje parece impossível pode tornar-se inevitável amanhã, dependendo das circunstâncias.
Se olharmos para trás, já vimos inimigos históricos tornarem-se parceiros estratégicos — a relação entre a Alemanha e a França depois da Segunda Guerra Mundial é um exemplo perfeito disso. Da mesma forma, tensões profundas entre grandes potências muitas vezes acabam por dar lugar a aproximações quando há interesses comuns suficientemente fortes. Talvez seja o que está agora a acontecer com a Rússia e os EUA, ainda é difícil ter certezas.
A certeza que podemos ter é que a opção europeia não pode ser a guerra.