NA PERSEGUIÇÃO AOS DEMOCRATAS

Mahmoud Khalil foi para os EUA estudar. Concluiu recentemente um mestrado na Universidade de Columbia. Tem um “green card”, o visto de residência permanente nos EUA. Ainda assim, foi detido há dias e corre o risco de ser expulso. Qual o crime? É palestiniano e foi apanhado a manifestar-se contra o genocídio do seu povo, lá na Palestina.

0
268

Mahmoud Khalil está detido sem acusação, num centro de detenção do Serviço de Imigração e Controle Aduaneiro, ICE. Khalil está casado com uma cidadã americana grávida de oito meses, mesmo assim as autoridades americanas não desistem de o deportar. Quando foi detido, estava em casa com a esposa. Os agentes da polícia chegaram a ameaçar de prisão a mulher, apesar dela estar grávida.

Talvez só agora Khalil tenha tido a real noção da importância dos protestos que ajudava a organizar. Depois de ter sido detido, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, publicou na rede X que o Governo dos EUA estava a deportar os apoiantes do Hamas e deu o caso de Khalil como exemplo.

O governo do Presidente Trump está a deportar um homem pela prática de atividades protegidas pela primeira emenda da Constituição dos Estados Unidos. Sem nenhum processo legal. Caso Khalil seja deportado, abre-se um precedente perigoso e qualquer um poderá vir a ser detido sem acusação, deportado sem ter cometido crimes. Ninguém poderá contar com a lei para se proteger contra a violência e a punição arbitrárias pelo estado. Trump e o seu governo revelam-se abusadores, fascistas.

Trump ameaça deportar todos os que critiquem Israel
Mahmoud Khalil

Hoje, 12 de março, um juiz federal de Nova York decidiu que Khalil não pode ser deportado do país sem autorização judicial, e marcou uma audiência entre advogados para quarta-feira. Esta decisão é uma vitória da advogada que defende Khalil e representa uma réstea de esperança para impedir a deportação imediata.

Vários governos ocidentais estão a equiparar anti-sionismo com anti-semitismo, mesmo se são coisas completamente diferentes. Um anti-sionista é alguém que combate o Estado de Israel, o que é legitimo. O anti-semita é alguém que combate pessoas por serem judias, o que não é legítimo. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra, tanto que muitos judeus são anti-sionistas e nem só judeus podem ser considerados semitas, dado que o termo se aplica a todos os povos que habitam uma parte do Médio Oriente.

Rapidamente, os entraves legais poderão ser eliminados com novas leis aprovadas pelo Governo de Trump, que já fez uma série de ameaças de revogação de vistos de estudantes e outros envolvidos em protestos de solidariedade com a Palestina, consistentemente designadas como “pró-Hamas”.

Não será a primeira vez que um Governo dos EUA produz leis racistas ou anti-democráticas. Nos anos 80 do século XX, por exemplo, quem pedisse um visto de turista para visitar os EUA tinha de declarar que não pertencia a nenhum partido comunista. A lei de imigração da época proibia a entrada no país de quem defendesse “pontos de vista ou materiais comunistas ou subversivos de outras maneiras”, o que significava que era permitido expulsar ou impedir a entrada de quem tivesse um discurso político não aprovado pelo governo. Mais tarde, o Congresso eliminou esta prerrogativa. Mas eis que ideias semelhantes reaparecem.

Ao longo do tempo, os EUA proibiram a entrada a pessoas proeminentes, apenas porque eram esquerdistas. Casos do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez (1927-2014) ou do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), ambos Prémio Nobel da Literatura.

Pablo Neruda
Gabriel Garcia Márquez

Estamos agora a assistir ao regresso de enquadramentos jurídicos que voltam a permitir a perseguição e expulsão de cidadãos, por “delito” de opinião. A direita americana, os republicanos, sabem bem como forjar novas realidades jurídicas. As proteções legais não podem ser presumidas; é preciso lutar por elas, ou simplesmente não se sustentarão.

Vivemos num mundo sombrio, onde Governos democraticamente eleitos não condenam o genocídio dos palestinianos e não permitem críticas a Israel. Na verdade, não precisamos de viver nos EUA para corrermos o risco de sermos confundidos com anti-semitas quando apenas protestamos contra ações racistas dos sionistas.

O caso de Mahmoud Khalil é o paradigma da repressão que se abate sobre cidadãos democratas.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui