O Ano do Senhor de 1940 foi escolhido pelo Governo da República Portuguesa para celebrar, com pompa e circunstância e com o virtuoso patriotismo que caracterizou o Estado Novo, duas marcantes datas da História de Portugal, grandiosa História de oito séculos tornada agora rediviva com a festiva evocação das memórias corporizadas nos anos de 1140 (data de invenção escolhida para celebrar o VIII Centenário da Independência de Portugal) e 1640 (essa data também fundacional, a da Restauração da Independência do Reino).
Calendarizaram-se para o período de 2 de Junho a 2 de Dezembro realizações várias de carácter nacional, de que se salienta a Grande Exposição do Mundo Português, que teve lugar no campo de Belém fronteiro aos Jerónimos, em Lisboa, onde os principais actos comemorativos se centraram. Episódicas celebrações se concretizaram nas cidades do Porto, Coimbra e Guimarães, deixando à margem o resto do território, onde as Juntas de Província e as sedes concelhias a seu modo se associaram à grandiosa efeméride.


Em Viseu, a Junta de Província da Beira Alta – circunscrição administrativa que, ao tempo, integrava os 33 concelhos pertencentes aos distritos de Viseu e Guarda – com as três cidades de então – Viseu, Guarda e Pinhel – tomou a peito a histórica celebração para que fora chamada e programou as suas festas para os dias 15, 16, 17 e 18 de Setembro, coincidentes com a popular Feira Franca de S. Mateus, em Viseu.
A Exposição Agrícola-Pecuária-Florestal, a inauguração de um estranho Padrão dos Centenários, uma Parada Folclórica, a inauguração do Monumento a Viriato e a Marcha das Aldeias de Viseu constituíram os actos maiores da celebração festiva em Viseu.
No que respeita ao levantamento dos ditos Padrões dos Centenários, nenhuma outra Junta de Província seguiu esta particular iniciativa.
A implementação de um Padrão Comemorativo dos Centenários, proposta nascida no seio da Comissão Executiva das Festas Centenárias da Província da Beira Alta, a seu tempo, o mês de Março, é apresentada aos 33 Municípios, aos quais, a breve trecho, foi enviado o projecto e o respectivo Caderno de Encargos, deixando aos responsáveis a liberdade de escolherem artista no local para a execução, ainda que lhes fossem indicados, como recurso, os nomes de habilitados canteiros de Viseu.
O Dr. José Amado Morgado (1906-1999), professor do Liceu Alves Martins e membro da Comissão Executiva Distrital, foi o autor do referido projecto do Padrão, que deveria ser construído em granito regional e evocaria, na austera coluna, os antigos Padrões das Descobertas e, nas suas quatro faces, integraria os escudos de D. Afonso Henriques e D. João IV, o moderno escudo de Portugal e o escudo de armas do respectivo município.
Signos marcantes, a coroar, a Cruz de Cristo sobre a Esfera Armilar.


Não foi fácil às Câmaras responder com facilidade ao projecto, que exauridas de verbas se reclamavam. Todavia, 27 dos 33 municípios acabaram por responder positivamente.
Os padrões das três cidades referidas foram integralmente pagos com verbas adjudicadas pela Comissão Nacional dos Centenários à Junta de Província, que, por sua vez, informava os municípios de que poria 1000$00 (mil escudos) à disposição de cada um, para custear a execução do padrão, cujos custos, em média, rondavam os 3000$00.
Erigidos em selecionado lugar que, às vezes, tomou o título de Praça da Fundação, os padrões foram inaugurados com pompa, em solene cerimónia, onde a Junta de Província se fazia sempre representar.
O Padrão dos Centenários, em Viseu, seria inaugurado no dia 16 de Setembro de 1940, no Largo Miguel Ponces, território para onde a cidade então crescia, a ocidente do Centro Histórico. Nesse mesmo dia, inaugurava-se, na cidade, o monumento a Viriato, concebido pelo escultor espanhol Mariano Benliure.


O padrão de Sernancelhe foi inaugurado a 3 de Novembro de 1940, por ocasião da anual Feira dos Santos, no então designado Largo da Fundação, também chamado Largo do Padrão.
O acto festivo da inauguração integrou o habitual discurso do Presidente da Câmara, a presença dos legionários, a actuação de uma banda musical, ao caso a banda de Leomil, e uma merenda para as crianças.


E o padrão ali continua, como memória, hoje em pouso distinto do original, fronteiro ao moderno edifício da Câmara Municipal.
E o mesmo aconteceu em alguns outros municípios que, por razões urbanísticas, procederam à sua deslocalização.