A abordagem de Trump está a preocupar os habituais parceiros dos americanos, sejam eles membros da União Europeia ou de outra geografia qualquer. Andaram três anos a dizer que a Rússia não podia ganhar a guerra e, agora, temem que a abordagem de Trump para acabar com o conflito venha a beneficiar Moscovo. Além disso, mudanças bruscas em política internacional de uma potência militar e económica como os EUA acarretam terramotos políticos que eles não desejam, principalmente se estiverem à beira de eleições, como é o caso da Alemanha.
O governo Trump já mostrou ao que vem. Na Ucrânia quer deixar de gastar dinheiro e passar a receber. A moeda de pagamento dos imensos recursos militares que os EUA já empenharam no apoio ao esforço de guerra da Ucrânia, terão de ser os recursos minerais de que o país dispõe. Trump quer 50% desses recursos, nem mais nem menos. A questão é saber se os dirigentes ucranianos aceitam e o que ganharão eles com isso. É por isso que Zelensky tem de desaparecer desta equação política.
Nos média norte-americanos e nas redes sociais globais, está hoje em destaque o comentário do jornalista Max Blumenthal, editor do site The Grayzone, habitualmente muito crítico dos governos do seu país. Desta vez, Blumenthal quase concorda com Trump quando ele disse que quem começou a guerra da Ucrânia com a Rússia foi Zelensky. O jornalista lembrou que a invasão russa foi provocada pela Ucrânia, instigada pelo ocidente, antes de Zelensky entrar em cena.
PROPAGANDA NOS NOTICIÁRIOS
Para quem não tem memória, há sempre o recurso aos arquivos. Basta ir ao Google para ficarmos a saber que, quando as regiões russófonas do Donbass declararam não querer estar sujeitas ao Governo da Ucrânia, quem disparou o primeiro tiro de canhão foram os ucranianos. Antes, já tinha havido um golpe de Estado, alegadamente financiado pelo ocidente, que derrubou o governo legítimo e que mantinha boas relações com a Rússia. Enquanto isso, várias bases militares da NATO foram instaladas cada vez mais perto das fronteiras russas, contrariando um acordo alegadamente estabelecido entre os líderes soviético Gorbatchev e o americano Bush. Estes são alguns dos argumentos de Putin para justificar a guerra na Ucrânia: forçar o ocidente a reconhecer um espaço neutro que sirva de proteção às fronteiras russas.
Blumenthal fala disto desde há muito tempo. “Tendo tentado, a partir do meu cantinho da internet, alertar o público americano sobre a guerra por procuração na Ucrânia desde 2014, e educá-lo sobre suas verdadeiras causas desde que a guerra eclodiu, senti como se estivesse sonhando quando ouvi os comentários do presidente”, escreveu no site The Grayzone.
Para este jornalista, foi a CIA a culpada pela guerra, pela ação de de Vitória Nuland, alto quadro do Departamento de Estado e com evidentes ligações à Central de Inteligência Americana. Nuland foi fundamental na organização do golpe de Estado que derrubou o Presidente eleito Viktor Yanukovych e foi ela quem estabeleceu os termos do financiamento aos grupos anti-russos ucranianos.
Toda a gente sabe disto, nomeadamente os que governam Estados europeus. Mas todos fingem que é normal os EUA fomentarem mudanças de regime conforme lhes dá mais jeito.
NOS PORMENORES PODE ESTAR O DIABO
A frase que mais vezes foi escrita e falada nos média ocidentais, pela certa que foi ditada por um propagandista norte-americano: “a invasão russa não provocada da Ucrânia”. É possível que a partir de agora eles comecem a dizer outras coisas.
Há ainda outra questão conexa que devemos ponderar. Os EUA estão “preocupados” com a destruição da Ucrânia e não ligam patavina ao genocídio dos palestinianos. O apoio americano a Israel é total, conforme garantiu Trump e como já tinha sido durante a Presidência de Biden. A Rússia diz apoiar a causa palestiniana e condena o genocídio. Partindo do princípio velhaco de que uma mão lava a outra, os EUA aceitam as regras da Rússia para a Ucrânia e beneficiam do silêncio russo quanto aos crimes israelitas. A Rússia fica com o Donbass, os EUA com a “Riviera de Gaza“, que além de vista de mar também tem hidrocarbonetos. O negócio perfeito.
