É o primeiro caso conhecido de um soldado israelita ser acusado de crimes de guerra. Chama-se Yuval Vagdani e julgava estar acima da lei. Publicou nas redes sociais as façanhas criminosas em que participou na Faixa de Gaza e, além dos vídeos, escreveu coisas como, por exemplo, “que possamos continuar a destruir e a esmagar este lugar imundo, até os seus alicerces” enquanto se mostrava a detonar explosivos que destruíam blocos de apartamentos.
Depois, Yuval achou que merecia umas férias no Brasil, mas foi lá que a Polícia Federal o indiciou a partir de uma queixa apresentada pela ONG Fundação Hind Rajab (HRF na sigla em inglês), uma organização sedeada em Bruxelas que se dedica a compilar evidências dos crimes de guerra praticados por Israel desde 7 de outubro de 2023 na Faixa de Gaza.
O grupo já apresentou acusações similares em países como Argentina, Chipre, França e Sri Lanka, mas foi no Brasil que o primeiro caso foi despoletado. O Governo de Israel diz que a HRF existe para inventar narrativas antissionistas e justificar ações de grupos como Hamas e Hezbollah.
Existe uma equipe de investigação que compila as publicações que esses soldados fazem nas redes sociais, em que eles frequentemente documentam condutas violentas, de conotação e incitação ao genocídio, e muitas vezes documentando a prática de crimes de guerra — afirmou a advogada Maira Pinheiro, contratada pela HRF para dar início à queixa-crime contra Yuval Vagdani.
Vagdani fugiu do Brasil, assim que foi notificado pela polícia. Com a ajuda da embaixada israelita, o suspeito passou a fronteira para a Argentina, país liderado por um Presidente da extrema-direita e de ascendência judaica. De lá foi para Miami, nos EUA, onde apanhou um avião para israel, eventualmente o único sítio do mundo onde poderá estar isento de pagar pelos crimes que cometeu.
No domingo, após anunciar que a embaixada de Israel em Brasília acompanhou a saída do militar do país, o Ministério das Relações Exteriores israelita alertou os soldados sobre o que publicam nas redes sociais sobre o seu “serviço militar”, noticiou a agência de notícias americana Associated Press.
No Brasil, a advogada que atua no caso relatou ter sido vítima de uma onda de ataques online. As ameaças, disse Maira Pinheiro, incluíram promessas de violência contra ela e sua filha, e pedidos para que o Mossad (serviço secreto de Israel) “agisse”. Ela disse ter registado todas as ofensas e feito denúncias à Polícia Civil de São Paulo, à Polícia Federal, ao Ministério Público de São Paulo e ao Ministério Público Federal, além de denunciar coação no curso do processo.