Um sniff de “O PERFUME”

Nestes dias em que a natureza não dá tréguas e a estupidificação dos homens cresce a olhos vistos, deixo-vos com um pouco de Literatura para atenuar a escuridão que advém do facto Trump ter vencido as eleições.

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“O Perfume”, de Patrick Suskind, narra de forma brilhante a história de um assassino que vive no reino fugaz dos odores.

Jean-Baptiste Grenouille, dotado de um extraordinário olfato, o menos nobre de todos os sentidos (como se o inferno cheirasse a enxofre e o paraíso a incenso e mirra), tem ao seu dispor a maior reserva de odores do mundo: a cidade de Paris do séc XVIII.

Um livro que é um autêntico tratado sobre o odor humano, sempre carnal e, por conseguinte, um odor de pecado… Mas antes de mais, a história do jovem Jean-Baptiste, dividido entre a riqueza do seu mundo olfativo e a pobreza da sua linguagem, levando-o mesmo a duvidar de que as palavras pudessem ter algum sentido… De modo que, com apenas seis anos, já o jovem tinha explorado olfativamente o mundo ao seu redor – flor de laranjeira, óleos de lima, cravo, rosa, extratos de jasmim, de bergamota, rosmaninho – possuindo um gigantesco vocabulário de odores com o qual elevava os seus discursos olfativos quase ao infinito.

Tendo como objetivo principal da sua vida revolucionar o universo dos odores e ser o maior perfumista de todos os tempos, o protagonista deste livro transporta-nos para um mundo de velas, incensos, especiarias, grãos de anis, casca de canela, mel, cafés, chás, almíscar… um caos de odores com um poder irresistível e contra o qual não se conhece nenhuma forma de defesa possível. Mas não só. Jean-Baptiste fartou-se dos odores das coisas e passou a desejar apenas o odor dos seres humanos, de determinados seres humanos, mais precisamente desses raríssimos seres que inspiram o amor.

Todo o livro é uma festa olfativa, uma gigantesca orgia de fumo de incenso e vapores de mirra conjugados com o assassino irrepreensível de várias jovens.

Era obviamente um homem escuro e estranho e que não possuía qualquer honra. Sabemo-lo por todas as mulheres que mata mas, sobretudo, pelo facto de conseguir deitar um olhar de ódio ao próprio sol!

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