É necessário recuar na memória para me recordar de alguns aspectos da agricultura praticada na Amoreira nos anos 50 e 60 do século passado.
Na época, já tinham desaparecido todas as tradições tão comuns que eram ainda na primeira metade do século XX, no Portugal rural, devido à influência das crescentes urbanizações de Cascais, dos Estoris e, por arrastamento, na própria Amoreira.
Era uma agricultura de subsistência ou complementar, praticada em solo calcário, pobre, enquanto nos terrenos arenosos, onde a camada de solo humoso era inexistente ou diminuta, floresciam o mato e os pinhais.
Todas as propriedades estavam cercadas por muros de pedra seca, mais ou menos altos, mas que possibilitavam uma passagem fácil, dificultada, nalguns casos, por silvados, canaviais e zambujeiros. Havia, no entanto, o caso das quintas, que tinham muros mais altos de pedra argamassada, como a Quinta do Tenente Romero, na encosta poente do lugar, ou parte da Quinta da Vaquinha, no vale da Ribeira da Caneira, com as suas vinhas, pomares e hortas.
Nas leiras, pequenos espaços agricultados, tanto nos vales como nas encostas, neste caso em socalcos, plantavam-se essencialmente favas, batatas, algumas árvores de fruto, pereiras, laranjeiras, limoeiros, nespereiras, figueiras e algumas videiras. Os quintais das habitações eram habitualmente transformados em pequenas hortas ou alfobres.
Nas terras, propriedades mais extensas de solos mais profundos junto aos leitos das ribeiras, cultivava-se trigo, milho e cevada. Era numa dessas propriedades que me lembro de ver o “Moca” de Alcoitão, segurando o arado puxado por uma junta de bois, enquanto sulcava as terras da margem esquerda da Ribeira da Caneira, onde hoje se localizam os campos de treino do Estoril-Praia.