A proposta foi da iniciativa de Cristina Fé Santos, autora do livro Sanatório Vasconcelos Porto, São Brás de Alportel, editado em outubro de 2006, por Publicações D. Quixote. A Direção Regional de Cultura do Algarve deu seguimento à pretensão iniciada em 2022.
De realçar a dedicação desta autora à história deste concelho algarvio, na medida em outra obra sua, Pousada de São Brás, 1944-2014, publicada em 2015, muito o dignifica e engrandece. Ao nosso agradecimento pela louvável ação de cidadania, disse-nos: “Eu gosto de trabalhar no que acredito, e vou à luta, sempre achei que era património nacional e não municipal”, referindo-se ao antigo Sanatório.
Uma vez analisada a proposta de classificação e aprovada que foi a abertura do procedimento, foi publicada no Diário da República (DR) e no site da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC). Este ato implica, desde já, uma proteção provisória dos edifícios, anexos e via de acesso. Qualquer intervenção fica sujeita a autorização prévia até à decisão final.
Seguir-se-á a análise do valor histórico e cultural, valor arquitetónico, valor técnico e científico, estado de conservação e autenticidade. A decisão final, precedida de consulta pública, será novamente publicada em DR.
Constituirá consequência da classificação como Imóvel de Interesse Público (IIP), por nós também desejada, a restrição de obras e intervenções, que ficam sujeitas a autorização da DGPC ou da autarquia. As estruturas relacionadas com o antigo Sanatório podem beneficiar de apoio para preservação e conservação, além da consequente divulgação, que aumenta a visibilidade do edificado, destacando a sua importância.
Apraz-nos registar, para já, os primeiros passos dados na salvaguarda deste importante património para a época da sua existência e tão tocante para os são-brasenses.
No ano de 1916, iniciaram-se as obras num terreno doado por Francisca Pires Uva, onde ficou instalado o Sanatório. No jornal A Manhã lia-se, em 1918: “… sabendo do altruísmo da nossa missão os proprietários da casa rústica ofereceram-nos, por uma insignificância, o edifício, a horta e o arvoredo…”
Desta sorte, a casa rural de uma família abastada foi adaptada e dela surgiu o primeiro hospital do país inserido numa empresa, a dar resposta a um problema grave de saúde, a tuberculose, que afetava a população portuguesa. Surgiram outros dois, em Paredes de Coura e na Covilhã.
Carlos Vasconcelos Porto, funcionário superior dos Caminhos de Ferro do Estado, esteve na origem do projeto e, conforme foi vontade dos ferroviários, a ele foi dado o nome do sanatório. Destinava-se inicialmente a todos os trabalhadores e familiares da empresa estatizada.
Para os conhecimentos desse tempo foi considerado o sítio ideal. Eram muitas as referências à boa qualidade do ar da Serra, benéfico para o tratamento da tuberculose e de outras doenças pulmonares.
Situado nos Almargens, a 298 m de altitude, a 3 km a norte da vila de S. Brás de Alportel, foi inaugurado a 8 de setembro de 1918. O médico Alberto de Sousa foi o seu primeiro diretor clínico, que, por se encontrar na frente de guerra em França, foi interinamente substituído pelo recém-formado José Paulo Pereira Machado, filho do farmacêutico José Pereira da Machada, Jr.
Em 1934, Gabriel Medeiros Galvão chegou a São Brás de Alportel e substituiu o Alberto de Sousa nas ausências deste. O Dr. Galvão, notável clínico açoriano, dirigiu o Sanatório de 1938 a 1977, quando atingiu o limite de idade. A instituição foi integrada no Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos (IANT), em 1953 e o imóvel ampliado, em 1968, com a adição de novo edifício a nascente.
Em 1991, o Sanatório foi extinto e integrado no Hospital Distrital de Faro, com valências de Pneumologia e Medicina Interna. Encerrou a 30.06.2002. Iniciaram-se, pois, em julho desse mesmo ano, as obras do atual Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul, que recebeu o primeiro doente a 16.04.2007.
A 6 de junho de 2007, foi inaugurado no espaço ocupado pela secretaria, no edifício original, o museu do antigo sanatório, com precioso espólio, que bem retrata uma época e reforça a pretendida classificação.
(nota da redação: teve este sanatório mais sorte que outros)