DE SANATÓRIO A IMÓVEL DE INTERESSE PÚBLICO

A notícia da recente abertura do procedimento de classificação do edifício principal e jardim frontal, casa do diretor, portão de acesso e a alameda dos ciprestes do Sanatório Carlos Vasconcelos Porto, nos Almargens, em S. Brás de Alportel, é motivo para relembrar o que foi um dos mais importantes sanatório do seu tempo. Rejubilamo-nos, claro, com o anúncio n.º 268/2024, publicado no Diário da República n.º 211/2024, Série II de 30.10.2024.

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A proposta foi da iniciativa de Cristina Fé Santos, autora do livro Sanatório Vasconcelos Porto, São Brás de Alportel, editado em outubro de 2006, por Publicações D. Quixote. A Direção Regional de Cultura do Algarve deu seguimento à pretensão iniciada em 2022.

De realçar a dedicação desta autora à história deste concelho algarvio, na medida em outra obra sua, Pousada de São Brás, 1944-2014, publicada em 2015, muito o dignifica e engrandece. Ao nosso agradecimento pela louvável ação de cidadania, disse-nos: “Eu gosto de trabalhar no que acredito, e vou à luta, sempre achei que era património nacional e não municipal”, referindo-se ao antigo Sanatório.

Uma vez analisada a proposta de classificação e aprovada que foi a abertura do procedimento, foi publicada no Diário da República (DR) e no site da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC). Este ato implica, desde já, uma proteção provisória dos edifícios, anexos e via de acesso. Qualquer intervenção fica sujeita a autorização prévia até à decisão final.

Seguir-se-á a análise do valor histórico e cultural, valor arquitetónico, valor técnico e científico, estado de conservação e autenticidade. A decisão final, precedida de consulta pública, será novamente publicada em DR.

Vista do sanatório na altura da sua inauguração, em 1918, Wikipedia

Constituirá consequência da classificação como Imóvel de Interesse Público (IIP), por nós também desejada, a restrição de obras e intervenções, que ficam sujeitas a autorização da DGPC ou da autarquia. As estruturas relacionadas com o antigo Sanatório podem beneficiar de apoio para preservação e conservação, além da consequente divulgação, que aumenta a visibilidade do edificado, destacando a sua importância.

Apraz-nos registar, para já, os primeiros passos dados na salvaguarda deste importante património para a época da sua existência e tão tocante para os são-brasenses.

No ano de 1916, iniciaram-se as obras num terreno doado por Francisca Pires Uva, onde ficou instalado o Sanatório. No jornal A Manhã lia-se, em 1918: “… sabendo do altruísmo da nossa missão os proprietários da casa rústica ofereceram-nos, por uma insignificância, o edifício, a horta e o arvoredo…”

Desta sorte, a casa rural de uma família abastada foi adaptada e dela surgiu o primeiro hospital do país inserido numa empresa, a dar resposta a um problema grave de saúde, a tuberculose, que afetava a população portuguesa. Surgiram outros dois, em Paredes de Coura e na Covilhã.

Carlos Vasconcelos Porto, funcionário superior dos Caminhos de Ferro do Estado, esteve na origem do projeto e, conforme foi vontade dos ferroviários, a ele foi dado o nome do sanatório. Destinava-se inicialmente a todos os trabalhadores e familiares da empresa estatizada.

Para os conhecimentos desse tempo foi considerado o sítio ideal. Eram muitas as referências à boa qualidade do ar da Serra, benéfico para o tratamento da tuberculose e de outras doenças pulmonares.

fotografia de 1930

Situado nos Almargens, a 298 m de altitude, a 3 km a norte da vila de S. Brás de Alportel, foi inaugurado a 8 de setembro de 1918. O médico Alberto de Sousa foi o seu primeiro diretor clínico, que, por se encontrar na frente de guerra em França, foi interinamente substituído pelo recém-formado José Paulo Pereira Machado, filho do farmacêutico José Pereira da Machada, Jr.

Em 1934, Gabriel Medeiros Galvão chegou a São Brás de Alportel e substituiu o Alberto de Sousa nas ausências deste. O Dr. Galvão, notável clínico açoriano, dirigiu o Sanatório de 1938 a 1977, quando atingiu o limite de idade. A instituição foi integrada no Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos (IANT), em 1953 e o imóvel ampliado, em 1968, com a adição de novo edifício a nascente.

Em 1991, o Sanatório foi extinto e integrado no Hospital Distrital de Faro, com valências de Pneumologia e Medicina Interna. Encerrou a 30.06.2002. Iniciaram-se, pois, em julho desse mesmo ano, as obras do atual Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul, que recebeu o primeiro doente a 16.04.2007.

A 6 de junho de 2007, foi inaugurado no espaço ocupado pela secretaria, no edifício original, o museu do antigo sanatório, com precioso espólio, que bem retrata uma época e reforça a pretendida classificação.

(nota da redação: teve este sanatório mais sorte que outros)

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