DE CASCAIS AO COVÃO DOS PORCOS

A literatura lega-nos conhecimentos que nos levam a sonhos e a viagens mentais sem sairmos do lugar onde estamos. A prática dá-nos tudo!

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Nos finais dos anos 60, do século XX, procurámos adquirir conhecimentos sobre Espeleologia. Inicialmente pesquisámos as grutas de Cascais, mas pouco tempo depois aventurámo-nos mais longe, aos concelhos de Sintra, Oeiras, Bombarral, Alcanede e Torres Novas.

Se na literatura temos relatos que nos levam a gostar daquilo que desconhecemos, como foi o caso do livro Dez anos debaixo da terra, de Norbert Casteret, a experiência que adquirimos com a prática despertou-nos para realidades que os autores não nos transmitiram.

Por diversas vezes nos deslocámos, por exemplo, ao Covão dos Porcos, no concelho de Alcanede. Não nos recordamos quem nos falou naquela antiga localidade, perdida na Serra dos Candeeiros, a poente de Vale de Trave, onde existiam grutas abertas nos calcários.

Gruta do Covão dos Porcos

A equipa era formada por diversos amigos, sem prática de espeleologia, mas com muita curiosidade acerca das cavidades cársticas que existem na região.

Nos vários fins de semana que por lá passámos, tivemos que dormir em tendas ou nos casebres devolutos que por lá grassavam entre muros e oliveiras.

acampamento
João Cândido

Para podermos saber onde se localizavam os fojos e as lapas, socorríamo-nos de pastores e de jovens cabouqueiros que trabalhavam nas pedreiras, após o fim do dia de trabalho.

Cabeço das Pombas
Grita da Moura, Bombarral

Um desses pastores, homem de fisionomia seca, o Sr. Branco, além de nos levar a várias grutas, ensinou-nos onde se encontravam pequenos reservatórios de água, na área paisagem serrana, em cavidades cheias de água da chuva, entre pequenos cabeços calcários debaixo de lajes situadas lateralmente aos trilhos que usava durante o pastoreio.

O Sr. Branco, para além de pastor, também se deslocava durante dois meses para a apanha da fruta na região de Alcobaça, deixando o trabalho de pastoreio à esposa e ao filho. Antes da apanha da fruta, também fazia a ceifa, fundamentalmente na freguesia de S. Domingos de Rana, tendo-nos descrito com precisão os campos agrícolas de Polima e a fonte de Freiria, que tão bem conhecia.

Curiosamente, estes homens, da região de Porto de Mós, que faziam a ceifa e a debulha na região de Cascais, eram conhecidos por “cardantes”, por muitos deles terem por profissão o cardar das lãs antes, operação que precedia a da fiação.

saloios e cardantes na ceifa_Casal do Clérigo

A sua esposa, a D. Branca, para além de ter a responsabilidade da casa, do filho e do gado. também se deslocava num burro para colher plantas medicinais endémicas existentes na Serra dos Candeeiros, que, depois de secas, eram vendidas às ervanárias e assim se ajudavam os parcos proventos da família.

a dona Branca

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