AS OLARIAS DE MOLELOS

A tradição que ainda é (quase) o que era

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Molelos, freguesia do município de Tondela, constituída por vários núcleos populacionais, situada nessa faixa de terra, a planície dita Terra de Besteiros, que a Serra do Caramulo separa das terras do lado do mar, teve povoamento antigo, que já vem do tempo das orcas. E desse tempo de extrema lonjura vieram já amostras do cultivo de uma olaria que jamais foi abandonada até aos tempos de hoje.

Interessante testemunho dessa presença é a curta evocação que dela faz Manuel Botelho Pereira, na crónica intitulada Diálogos Morais e Políticos (Viseu, 1635) de onde consta este pequeno texto: “O barro de Molelos, bem lavrado, é o mais cheiroso e fresco que se pode achar, assim para beber como para outro serviço.”

Barro feito utensílio, que ali seria levado, como ainda hoje, às tendas abertas na Feira Franca de Viseu, que depois se chamou de S. Mateus.

Nunca ali foram abandonadas estas práticas artesanais de teor familiar que, hoje, perdido esse carácter, se mantêm graças ao bairrismo desses novos artesãos, que já não cuidam de fabricar objectos para a serventia da cozinha, da despensa, da copa ou da mesa, de tal já não cuidam em absoluto, ainda que a tradição persista, suprindo gostos mais do que necessidades.

Das jazidas próximas se trazia o barro, que se limpava de areias, batendo-as (sovando-as) com maço de ferro e se amassava, de modo a torná-lo tenro e maleável, vindo depois à roda, movida com os pés, que deixavam as mãos libertas para franca modelação, mãos que se ajudavam com uma pequena utensilagem.

Grandes talhas de armazenagem, púcaras, panelas, pucarinhos, cântaros, cantarinhas, bilhas de ir à fonte, bilhas de segredo, bilhas de azeite e de vinagre, padelas de levar ao forno, de largo uso ainda na preparação da chanfana, assadores de castanha, terrinas, pratos, frigideiras… um denso quadro que as mulheres dos oleiros levavam, às vezes, em cestos, à cabeça, às feiras da região.

Os oleiros, hoje, não utilizam já as velhas rodas de madeira movidas com o movimento dos seus pés, mas rodas eléctricas; já não cozem a louça nuns fornos à moda antiga, cavados no chão, ali designados soenga, mas em modernos fornos.

roda de oleiro
utensílios tradicionais de oleiros

Estes novos oleiros mantêm, todavia, a tradição da louça negra, que obedece a uma peculiar e ancestral tecnologia. Ainda constroem peças de antigos modelos como objectos de memória, mas respondem já a uma exigência artística, que produz, nesse barro negro da tradição, verdadeiras obras de uma peculiar estética que se tornam dignas de entrar num Museu de Arte.

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