Longa, diversificada e fecunda foi a vida de D. António Alves Martins (1808-1882), liberal convicto que se bate em campos diversos pelas suas ideias cumprindo, no tarde, missões de político empenhado e que, feito Bispo de Viseu, participante intempestivo no Concílio Vaticano I (1869), regressa ao seu Paço do Fontelo de onde governará a Diocese até ao ano da sua morte como solícito e desprendido pastor.
Em testemunho de veneração por este prelado a gente de Viseu, através de uma constituída “Comissão do Monumento” sustentada por um grupo de admiradores, intenta fazer levantar memória tão condigna quanto exemplar fora a vida do celebrado homem de igreja, da exemplar figura de cidadão, do patriota e do pastor que governa com solicitude e manso coração a sua Diocese, essa estátua altaneira cuja modelação se confiou ao insigne escultor António Teixeira Lopes.
O Parlamento monárquico requerido pela referida Comissão apadrinhou a ideia e generosamente cedeu o bronze para a fundição que seria feita em Lisboa no Arsenal do Exército. E assim aconteceu, dando-se todavia o caso de ter havido entretanto essa fatal mudança de regime político que fez com que fosse já o Governo republicano a inaugurar o monumento que louvou.
Sobre o pedestal que o grande mestre pedreiro Serafim Lourenço Simões construíra em 1908 deveria erguer-se então, na manhã de 10 de Fevereiro de 1911, solene, a estátua do venerando Bispo que Teixeira Lopes idealizara. Todavia, acidente técnico ocorrido quando a estátua estava a ser içada fez com que a mesma tombasse, sofrendo graves danos que desfeitearam a obra de arte.
António Silveira, mestre do Arsenal do Exército, martiriza-se no encontro de uma solução e é Arnaldo Malho, ao tempo já mestre serralheiro, adestrado nas importantes oficinas de João Rodrigues Figueiredo quem, ali presente, expedito, irá agilizar uma inventiva solução para a reparação, in loco, da estátua e com o concurso de outros serralheiros e o assentimento do Mestre do Arsenal improvisa ali uma oficina de fundição e habilmente se lhe reparam os danos.
Arnaldo Malho conta este episódio em texto da Revista Beira Alta e Aquilino Ribeiro transcreve à letra, quase, o texto que o amigo lhe ofertara e ele haveria de publicar nas Arcas Encoiradas. E assim, na gloriosa manhã de 18 de Fevereiro de 1911, com a pompa costumada, a cidade assiste à inauguração antes marcada. E agora ali pousa, atento e solitário, o bispo de extremoso coração e sua figura nos espanta sempre que a olhamos à luz temperada da manhã ou no contraluz dramático da tarde.