Apresenta-se, sugestivamente, como uma coletiva de Verão, quando, de acordo com o calendário, é o Outono que está mesmo aí pra vir. Pode ser, porém, auspício de tempo agradável, a proporcionar, por exemplo, uma ida serena à galeria do Casino, para apreciar esta Artis 24, título que certamente se quis roubar à língua latina, para dar mais efeito. E dá! Mais não seja porque os linguistas hão de discutir por que carga de água é que vem ali aquele genitivo: são os 24 «da Arte» ou 24 é, simplesmente, a identificação do ano e do resto que cada qual se amanhe a tentar descobrir o significado.
Uma coisa é certa: até 30 de Setembro (é até essa data que preconizam o prolongamento do Verão) podem ver-se na galeria trabalhos dos seguintes artistas:
– Mariana Sampaio, «uma artista nortenha, que com um surrealismo sui generis, brinca com as personagens que cria, através duma paleta de cores fortes e alegres;

– o brasileiro Rogério Tunes, «um gestualista de enorme qualidade»;

– Maramgoní, mais um autor brasileiro, «que trata a paisagem como poucos, com uma apurada técnica pictórica, destacando-se os pontos de luz, as sombras ou os retratos»;

– e Maria Flores, licenciada pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, que apresenta «um grupo de trabalhos de forte cromatismo, com uma paleta de cores quentes».

Somos capazes de, com esta vaga de calor, não apreciar muito agora as cores quentes da Maria Flores; mas as pinturas sempre se poderão guardar para as noites frias de inverno, está visto.
Maramgoní, a gente conhece: o homem desunha-se para pintar pormenores.
‘Gestualista’, uma pessoa precisa de ir à gramática dos pintores para saber o que é: será o que faz gestos a pintar? Quiçá não, porque, a pintar, todos têm mesmo que gesticular; portanto, o melhor é ir espreitar os trabalhos do Tunes, para se entender o que é, não nos saia por lá um Zé Povinho a fazer o tal gesto que bem conhecemos e que cada dia nos apetece mais fazer perante o quotidiano que nos obrigam a viver, ai Bordalo, Bordalo, que fazes cá muita falta!…
Agrada saber da alegria da Mariana, porque nos dá mais gozo brincar alegremente – porque de tristezas já bastam as que nos provocam.
Se o convenci, amigo, a dar uma saltada até à galeria – que até tem ar condicionado – dou por bem empregado o tempo que ocupei (e o ocupei) nesta conversa.
Vam’lá?
