SARS COV 2 ou o início da Segunda Guerra Fria

Em 1989 caiu o Muro de Berlim. Este acontecimento ditou o fim da Guerra Fria, um período político marcado por tensão bélica, em particular o fantasma do nuclear, que  perdurava desde sensivelmente o fim da II Guerra Mundial, em 1945. Com a queda da URSS, em 1991, o imperialismo americano consolidou-se. O capitalismo ganhara a guerra político-económica contra o comunismo russo e os EUA eram os Senhores do mundo.

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A Guerra Fria, nas mais de quatro décadas que a marcaram, teve diferentes períodos, entre os quais momentos de coexistência pacífica. O medo de uma III Guerra Mundial onde o nuclear desintegrasse largos territórios do planeta inibiu várias gerações de avançarem para um confronto direto alargado, optando-se por interferir na guerras civis da Coreia, do Vietname, ou do Afeganistão, entre muitos outros países da Europa, África e América Latina, cujas consequências nas populações persistem até hoje. O terror quase existencial dos comunistas ditou a vitória dos EUA em muitos destes países, mas também houve derrotas.

No final, a URSS não aguentou o peso da sua estrutura, o que para alguns foi interpretado como a vitória do individualismo sobre o coletivo. Nos anos 90, os EUA pareciam não ter mais inimigos ao seu nível e a ordem mundial que se estabeleceu escancarou o processo em curso de globalização, de onde atualmente partem muitas das ideias do globalismo.

A questão que coloco hoje é: mas a guerra fria terminou mesmo em 1989? Ou os 10 anos que se seguiram foram apenas um interregno de modo a redefinir o alvo?

Um novo modelo económico para um mundo político imerso no digital

Há quem diga que a Rússia é um inimigo fácil e conveniente. Foi Hollywood quem nos foi implantando esta ideia ao longo das décadas, com os seus vilões com sotaque carregado vindos de países frios. Mas e se a Rússia fosse mais um meio que um fim? E se na luta pelo domínio mundial uma guerra aberta seja demasiado complexa de suportar, devido às ligações económicas, e se torne mais vantajoso copiar simplesmente o modelo económico?

Há muito que a China exibe com orgulho o seu lema de “Um País dois Sistemas”, o que lhe permitiu um desenvolvimento notável. Mas se é facto que o capitalismo venceu na China, também é facto que muito se deveu à sua aposta nos meios digitais de controlo da população. Este novo “capitalismo de vigilância” parece fazer muito sentido para o pessoal de Sillicon Valley, principalmente quando a economia mundial parece indicar que a melhor maneira de aumentar a produtividade é reconhecer os padrões comportamentais das populações. Tanto para prever as suas próximas compras, como também para influenciá-las.

Muito da Pandemia de Covid-19 foi isso mesmo: a introdução de “gadgets” a título “excecional” em nome de uma “crise de saúde pública”, de modo a que as populações se habituassem a ser monitorizadas. Pela sua saúde, claro! Dito publicamente pelo conselheiro do Fórum Económico Mundial, Yuval Noah Harari.

Uma das últimas edições do The Economist, focada nas vantagens da imigração no que toca ao aumento da produtividade através da captação de talento (Portugal aparentemente é um bom exemplo), destaca que as vantagens económicas da vigilância digital chocam de frente com o sentimento de liberdade individual que domina o mundo Ocidental. Aparentemente, segundo esta prestigiada revista, isto está a atrasar-nos em relação a, por exemplo, o Médio Oriente e a Ásia. A produtividade, o progresso, inclusive a inclusão e a diversidade, beneficiariam com a digitalização do mundo, a qual anula a tradicional e lenta burocracia.

Esta e outras leituras colocaram-me a pensar: e se o certificado digital durante a covid foi um projeto mais ou menos falhado porque a própria “vacina” não cumpria os critérios mínimos de controlo de transmissão a que se pretendia? Um Cartão Vacinal digital Europeu vai ser introduzido de qualquer maneira, porque é nesse sentido que se dirige a economia. A vigilância através dos dados de saúde é a melhor maneira de introduzir o extremamente produtivo modelo económico chinês a Ocidente, conseguindo assim competir ao mesmo nível com um inimigo que não esconde que manipula e controla a população (e eles até aceitam bem a situação, porque é para o bem maior).

Chamam-lhe progresso, mas não há bela sem senão. Apesar das leis de proteção de dados, não há passado jurídico nas crises de saúde pública que impeça as regimes “excecionais”.  A introdução no mercado de dispositivos “para um bem maior”, vai abrir espaço, a curto prazo, à legitimação do condicionamento de comportamentos.

É a isto que se resume o Tratado Pandémico.

Não há dia em que não se fale na eventualidade de uma III Guerra Mundial ou numa II Guerra Civil nos EUA, mas penso que estamos um pouco longe de tais cenários escatológicos. Para o bem e para o mal, o medo do nuclear ainda cumpre a sua função. O que se vive desde 2020, na minha opinião, é uma II Guerra Fria. Uma guerra silenciosa, que se vive principalmente nas redes sociais e através de meios de propaganda. Uma guerra de burocratas não eleitos, que perante um sistema tão grande e complexo se podem facilmente esconder na sua invisibilidade e falta de responsabilidades atribuíveis.

Uma guerra de pessoas que nasceram nos anos 70, 80 e 90. Que cresceram com os ecrãs, que vivem no mundo da representação, onde aquilo que se pensa sobrepõe-se  ao que a realidade impõe, porque a realidade pode sempre ser ajustada. Uma guerra existencial, de luta pela sobrevivência, e que encontrou na Saúde a sua melhor bandeira, porque já ninguém quer realmente morrer pelo seu país, mas talvez morra por uma ideia romântica do planeta Terra e do sentido cósmico da Humanidade.

(continua)

1 COMENTÁRIO

  1. Neste momento há um conflito que se pode resumir como sendo entre o bloco ocidental e o bloco dos BRICS. A má notícia é que nenhum defende a liberdade individual. A boa notícia é que um deles dá algum valor às suas populações nacionais, protegem as suas fronteiras, não inventam tretas assassinas e fraudulentas para impor as suas regras, não são globalistas que tentam dominar o mundo através de organismos supra nacionais pseudo-benevolentes que foram cooptados; Ambos fazem censura mas um lado faz muito mais propaganda hipócrita como se fossem campeões do discurso livre.

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