Em França, a esquerda venceu eleições mas, dois meses depois, o Presidente Macron não pretende nomear um novo primeiro-ministro indicado pela esquerda. A França continua a ser governada por um governo sem legitimidade, os resultados eleitorais não são respeitados. Se fosse na Venezuela, caía o “Carmo e a Trindade” e os EUA ameaçariam invadir para defender a democracia. Mas em França, parece que não faz mal a democracia ser violada.
A Nova Frente Popular, a coligação que venceu as eleições, recusa qualquer tipo de entendimento com os partidos de centro-direita, cenário que terá sido proposto por Macron para resolver a crise que ele próprio desencadeou quando marcou eleições legislativas antecipadas, no pressuposto de que o seu partido iria vencer. A ideia do Presidente seria sair reforçado em termos de legitimidade eleitoral, mas as contas sairam furadas. Perdeu e, agora, não quer honrar os resultados eleitorais.
A Constituição não obriga o Presidente a nomear um primeiro-ministro da força política mais votada, diz apenas que é poder do Presidente nomear um primeiro-ministro. Mas o mínimo bom-senso político diz que se o nomeado não tiver apoio da maioria dos partidos no parlamento, será um governo morto à nascença. Se Macron nomear alguém que não tenha aceitação da esquerda, o partido La France Insoumise (França Insubmissa) já disse que faz três coisas: 1-apresentar uma moção de censura ao novo governo; 2-manifestações; 3-propor a destituição do Presidente.
“O Presidente da República não é um monarca com direito de veto suspensivo sobre o resultado de uma votação democrática”, dizem os dirigentes da La France Insoumise, o maior partido que integra a coligação Nova Frente Popular.
Macron deveria ter nomeado um primeiro-ministro indicado pela Nova Frente Popular, a coligação vencedora. Mas, Macron argumentou que não era conveniente mudar de governo antes dos Jogos Olímpicos e defendeu uma “trégua olímpica”. O que é um pouco bizarro porque foi ele quem decidiu realizar as eleições antes dos Jogos Olímpicos.
A “trégua” foi aceite, mas seria suposto que Macron não tivesse passado o mês todo a ver atletas a correr e a saltar. Deveria ter planeado o futuro, prevenindo problemas. Agora, percebemos que Macron apenas quis ganhar tempo, mas não tem um plano B que garanta estabilidade.