Dia da Mulher

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Em 1917, no dia oito de Março, uma marcha de protesto juntou na Rússia mulheres e muitas pessoas, contra o desemprego, as más condições de vida e a guerra. Em Outubro viria a Revolução.

Coincidentemente o dia 8 de Março celebra o aniversário da minha mulher, a Cristina, uma mãe lutadora, sobrevivente da barbárie da violência doméstica e da orfandade de afectos mas, ainda assim, totalmente dieponível para o seu semelhante.

E comunista. Diz-me que ser comunista é partilhar, ser útil, viver sob princípios, por muito que a vida lhe tenha sido madrasta. Divide o pouco que tem com o seu semelhante, um sorriso a cada pequeno elogio, vindo de onde vier. Os meus amigos mais chegados conhecem-na e a Cristina sente-se bem no meio deles. O que é que eu poderia desejar mais, querer mais?

Portugal é um país onde as mulheres passaram da inexistência, do anonimato e da escravatura para um patamar simbólico que afrontou conceitos e formas de vida em que muitos homens não souberam e não se conseguiram adaptar à divisão de tarefas, à divisão de responsabilidades e à perda de protagonismo no núcleo familiar.

A mulher quer ter uma vida para além da maternidade e nós enquanto sociedade ainda não encontrámos a solução. A violência doméstica e o flagelo dos assassinatos passionais, se não és minha não és de ninguém, continuam a desgraçar famílias. A lei, demasiado branda para os feios, porcos e maus, continua a castigar as nossas mães, irmãs e mulheres. Todos nós temos mãe.

A Cristina sobreviveu a tudo isto, há trinta anos, várias vezes na esquadra da PSP do Cacém, uma poça de sangue da cabeça aos pés, com a filha nos braços, mas tinha que ser em flagrante delito… Uma absurda e inenarrável desumanidade, uma violação. Hoje, certamente, estarão na primeira fila para o subsídio de risco.

Lutou, criou a filha, perdeu-a para a ingratidão humana porque a vida é feita de obstáculos mas merece ser vivida e teve outro menino. O nosso menino. Um menino que inspira cuidados e preocupações, muito diferente do irmão mais velho que, por si só, é uma árvore com raízes frondosas e uma inspiração para todos nós.

Esta, pretende ser uma homenagem a todas as mulheres que conheço mas, porque é especial, à mãe do João. Uma mulher que nunca vacila, que nunca desiste, que me honra com a sua cumplicidade.

Cristina, ao centro, na fotografia

O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.

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