A escola é um tema central no debate público, nos dias de hoje e nas nossas sociedades. No discurso, pouco importam os vectores da herança cultural e a cura milagrosa, através da mobilidade social ascendente que tem o cognome de Elevador da Glória. Perdão. Elevador social. Um jargão usado por políticos sem substância.
Portugal viveu sempre de costas voltadas para o saber, excepto naquele curto espaço temporal que vai dos descobrimentos até à expulsão dos judeus.
Marçal Grilo, na obra Salazar e a Educação no Estado Novo, prefaciado por Marcelo Rebelo de Sousa, não deixa dúvidas sobre o período da ditadura: “O autor demonstra por que razão a educação foi um dos flagrantes fatores de retardamento nacional, entre os anos 30 e 60, apesar dos esforços meritórios de alguns, visionários ou arrojados.”

Aos 40% de analfabetos, em 1960, a democracia oferece mais de 50% de jovens universitários. Foi um longo caminho para aqui chegar.
Roberto Carneiro, nos Fundamentos da Educação e da Aprendizagem propõe quatro pilares em que deve assentar a educação para responder aos desafio do séc. XXI, a saber: Aprender a Ser, Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer e Aprender a Viver Juntos. As sociedades modernas são as do conhecimento e da investigação, mas também da liberdade individual, da tolerância e da multiculturalidade. Temos de ter ferramentas que nos permitam, ao longo da vida, uma adaptação às mudanças que acontecem invariavelmente.

A educação pode preparar-nos para melhor responder à incerteza, combater as injustiças e as desigualdades, dar melhores respostas às mudanças rápidas na sociedade e, no mundo do trabalho, em particular.
A importância da educação não se vê reflectida nem no papel da escola enquanto elemento simbólico, enquanto instituição, nem no papel do professor que desceu, consideravelmente, na hierarquia. Deixou de andar lado a lado com o médico e com o padre, alicerces da sociedade tradicional, tendo o seu estatuto diminuído e as suas condições de trabalho degradado, ficando sujeitos a mais violência e a salários cada vez mais distantes de outras categorias profissionais.
Uma sociedade tem de fazer escolhas e, se opta pela educação, tem de ser coerente.
O Professor António Manuel Baptista, que me habituei a ver nos muitos programas de divulgação científica que passavam na RTP, escreveu A Ciência no Grande Teatro do Mundo. Físico e humanista brilhante, divulgador de ciência, homem de uma cultura imensa, tenho por ele um fascínio apaixonado. Atribuo-lhe o mérito de ter definido, para além de todos quantos pensaram o tema educação, a razão do insucesso do nosso sistema escolar: “Seria impensável para o honesto e democrata cidadão português que as exigências feitas para a selecção e formação de um jogador de futebol, o seu treino, as condições de trabalho, a competência dos treinadores, a organização dos serviços de apoio, o espírito de grupo, as remunerações correspondentes dos agentes, tivessem paralelo num sistema educativo para os seus filhos.”

O autor escreve em português tal como o seu pai lhe ensinou, ao colo, a ler “Abola”.