Todo o ambiente lhe parecera um tudo-nada estranho. Diferente do das outras vezes. Na Oftalmologia, tudo funcionava em engrenagem bem oleada, pouco tempo de espera, exames atenciosos por parte das técnicas antes da consulta propriamente dita.
– Então hoje não faço mais nenhum exame? – Só se o doutor mandar. – Ah!...
Recebeu-o no consultório o senhor doutor. Mal levantou os olhos do computador, onde, certamente, via o histórico do doente. «Bom dia. Pode sentar-se». Silêncio.
– Pois é. Vai ter de ser operado. Não aqui.
Estava a referir-se ao hospital em que estavam, de gestão público-privada.
– Não? Mas aqui faziam operações à córnea!... – Agora já não.
Indicou que o doente iria ser chamado, oportunamente, por um hospital público da cidade próxima. Aguardasse a chamada.
Quanto ao colírio que estava a ser ministrado, sim, poderia continuar, embora outros houvesse.
– Pode, então, passar-me a receita dum que lhe pareça melhor? – Não, receita eu não posso passar.
Pegou numa folha A4 branca, dobrou-a ao meio e escreveu o que se reproduz na imagem.
Na farmácia, o papelucho dobrado andou de mão em mão para se tentar saber o que estava escrito. Lá se conseguiu e, claro, depois de se ver a embalagem, até se era capaz de decifrar tudo: I.fresh duo. O significado da garatuja, ou seja, o nome do senhor doutor, é que se ficou por descobrir. Por outro lado, nem data, nem vinheta, nem papel timbrado…
O doente saiu e, nos dias seguintes, deu em perguntar aos amigos: de oftalmologistas tens algum de confiança?
Uma história muito estranha, de facto. E, entre outras razões, também por esta se torna muito interessante.
Há neste concelho um hospital de gestão igual onde, diziam, o serviço de oftalmologia funcionava muito bem e as cirurgias tinham grande êxito.
O nome do médico eu seria capaz de perguntar, bem como a razão pela qual “JÁ NÃO” têm continuidade certas práticas, mas terá alguém tomado o lugar do verdadeiro sr. doutor?
Nestes tempos estranhos, tudo é possível…